Título: Gasto menor com tarifas deve estimular consumo em 2006
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Brasil, p. A2

A queda da inflação no atacado ao longo de 2005 irá resultar em mais renda para o consumo no próximo ano. Como os preços de tarifas como telefonia e energia elétrica não vão subir tanto, os brasileiros terão uma folga no orçamento para direcionar à compra de bens de consumo. Em 2006, Fábio Silveira, sócio-diretor da MS Consult calcula que 27% do orçamento de uma família brasileira vá ficar comprometido com o pagamento de contas de serviços como energia, telefone e transporte. É um número inferior aos 29% que foram destinados a esses gastos neste ano. Esses dois pontos percentuais representam mais R$ 180 no bolso de uma família que tenha uma renda de R$ 950 mensais, que é o valor médio recebido pelos brasileiros segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Além disso, uma inflação ao consumidor beirando os 4,5% ao longo do ano, um mercado de trabalho em expansão e a expectativa de um aumento real de 9% no salário mínimo também devem impulsionar o consumo, e a aposta é que o comércio varejista cresça mais de 5% em 2006. Na avaliação da MS Consult, a parcela majoritária dessa renda será destinada à compra de bens de consumo duráveis. Segundo Silveira, cerca de 40% do rendimento que não for gasto com tarifas poderá parar nos caixas dos supermercados para o pagamento de alimentos e produtos de higiene. O resto deverá ser gasto em eletroeletrônicos e eletrodomésticos. "A demanda por esse produtos aumenta mais quando há mais renda disponível. No caso dos não-duráveis, como alimentos, a demanda não cresce tanto. Eu posso ter dinheiro no bolso e decidir comprar mais comida ou alimentos mais caros. Mas há um limite para isso. Não vou comprar três sacos de café, se só uso um por mês. No caso dos eletroeletrônicos é diferente, porque posso querer trocar o que tenho por algo mais novo e moderno", explica Silveira. O economista projeta uma alta de 4,3% nas vendas dos super e hipermercados em 2006, acima da previsão de 3,2% deste ano. Já para os bens duráveis - móveis e eletrodomésticos - a expectativa é de um avanço de 19% no próximo ano, contra 15% em 2005. A economista Lygia de Salles Freire César, da Rosenberg & Associados, entretanto, aposta que haverá uma mudança no padrão do crescimento do varejo. Para ela, a explosão do crédito já se deu neste ano e, na margem, ele irá contribuir menos para o aumento das vendas. "Com mais renda vinda do aumento do mínimo, e de um peso menor das tarifas no bolso do consumidor, os não-duráveis devem ter mais fôlego", explica a economista. Pelos cálculos da Rosenberg, a massa de salários irá ser 5% maior ao final de 2006, fruto de uma evolução positiva de 3,3% no número de pessoas com emprego e de um incremento de 2% no rendimento médio real recebido pelos trabalhadores. Para os economistas do Bradesco, a queda das taxas de juros, o aumento do gastos do governo e a recente recuperação da confiança do consumidor dão alguma segurança na retomada do crescimento econômico. Com isso, o mercado de trabalho do Brasil deverá ter o terceiro ano consecutivo de elevação da renda e do emprego.