Título: Argentina quer ampliar pacote antiinflação
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Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Internacional, p. A7

Política Econômica Governo estuda estender acordos setoriais de redução de preços para todo o ano de 2006

A Argentina termina o ano reiterando duas das características marcantes de 2005: a preocupação com a inflação e a aproximação com a Venezuela. O governo argentino anunciou ontem novas medidas para tentar conter a alta dos preços, além de uma emissão de títulos, no valor de US$ 270,4 milhões, comprados pelo governo venezuelano. No que diz respeito à inflação, o governo pretende estender o atual programa de contenção de preços para mais centenas de produtos, informou ontem o chefe de Gabinete da Presidência, Alberto Fernandez. O programa seria também prorrogado e valeria para todo o ano de 2006. No começo de dezembro, as autoridades argentinas chegaram a um acordo com as maiores cadeias de supermercados do país para a redução de 15% nos preços de 220 produtos básicos, que incluem alimentação, vestuário e produtos pessoais. Outros setores, da siderurgia à indústria farmacêutica, também concordaram em reduzir seus preços. Esses acordos, porém, terminam no final de janeiro. Segundo reportagem do jornal "Clarin", Fernandez disse que o governo pretende ampliar o desconto de 15% para um total de 500 produtos, o que dobraria a lista original do acordo. A redução de preços valeria ainda, disse ele a uma rádio local ontem, para todo o ano de 2006. Não está claro como um desconto temporário no preços pode se tornar quase permanente, nem se as empresas já foram consultadas a respeito "Estamos estudando um modelo que é usado na França para uma cesta de produtos, para os quais as empresas seriam monitoradas", disse Fernandez, um dos ministros mais poderosos do governo argentino. Ele negou que isso signifique um tabelamento de preços e disse que o governo não vai impor preços máximos dos produtos. A inflação deve alcançar ou até mesmo superar 12% este ano na Argentina. Com a economia em forte crescimento e a capacidade instalada operando no limite, espera-se que a pressão inflacionário continue em 2006. Analistas estimam que a inflação no ano que vem também será de cerca de 12%. A principal atitude do governo até agora foi a negociação com setores específicos da economia para pressionar por reajustes menores nos preços dos principais bens de consumo, assim como de insumos para a indústria. Mas, segundo o "Clarin", o governo avalia a possibilidade de punir empresas que não cumpram o acordo. Medida possíveis são elevar o imposto de exportação ou retirar subsídios, para inibir a venda ao exterior e forçar a queda de preços no mercado interno. O governo argentino vem evitando elevar os juros (o que apreciaria a moeda) para conter a inflação, como fez o Brasil. Teme que isso prejudique o crescimento e cita o exemplo brasileiro. No que diz respeito à crescente aproximação com presidente venezuelano Hugo Chávez, o Tesouro argentino informou ontem que vendeu US$ 270 milhões em títulos Boden 2012 à Venezuela, a "preços de mercado". Essa foi a segunda venda em apenas uma semana. A Argentina vem buscando ampliar suas reservas pois vai sua dívida de US$ 9,8 bilhões com o FMI em 2 de janeiro. Com a forte receita do petróleo, a Venezuela comprou US$ 1,75 bilhão em títulos argentinos este ano.