Título: Falta investimento externo para ampliar exportação
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Opinião, p. A8

Os dados mais recentes sobre o balanço de pagamentos, divulgados na semana passada pelo Banco Central, mostram que o Brasil está perdendo uma excelente oportunidade de atrair um volume maior de investimentos externos que poderiam ser destinados a ampliar e sofisticar a produção agropecuária e industrial destinada à exportação. A competição por recursos internacionais para instalação ou modernização de fábricas é, como se sabe, ferrenha e, por causa de variados fatores como a política cambial, a falta de infra-estrutura adequada e talvez até a crise política dos últimos meses, o setor produtivo brasileiro está perdendo a disputa. É de se notar ainda que um fator essencial no momento de definição de qual país deve receber uma aplicação é a taxa de crescimento econômico - mais um critério em que os brasileiros ficaram bem atrás de chineses e asiáticos de forma geral e também da maioria dos latino-americanos neste ano. O ingresso líquido de investimento direto estrangeiro desse ano soma US$ 13,8 bilhões, indica o levantamento do Banco Central. É um valor 8,2% inferior ao acumulado entre janeiro e novembro do ano passado (US$ 15 bilhões). Com esses resultados, dificilmente o total de investimentos vindos do exterior ultrapassará a casa de US$ 15 bilhões em 2005, ficando abaixo, portanto, das expectativas das autoridades monetárias, que projetavam a cifra de US$ 15 bilhões. É preciso ressalvar que a queda em relação a 2004 é, de certa forma, distorcida, porque no ano passado foi fechada a operação de troca de ações da AmBev, que resultou na entrada de US$ 5 bilhões. Mas deve-se, em contrapartida, observar que nos últimos meses o ritmo de entrada de investimento externo está caindo e ficando bem abaixo da média mensal observada no primeiro semestre. Ou seja, a melhora de uma série de fatores macroeconômicos - como a redução das taxas de inflação e os ótimos resultados da balança comercial - não estão sendo suficientes para que o país volte a atrair grandes volumes de investimentos. Além disso, chama a atenção o fato de que o grosso dos investimentos feitos por companhias do exterior no Brasil tem como destino não os setores que respondem pelos maiores volumes de exportação do país, a indústria e o agronegócio, mas sim o segmento de serviços, que tem ainda uma contribuição muito modesta em termos de vendas ao exterior. De acordo com o Banco Central, do ingresso total de investimentos, uma substanciosa parcela - de 63,7% - do total se destinou ao setor de serviços, com destaque para correios e telecomunicações (US$ 3,8 bilhões), comércio (US$ 1,9 bilhões) e eletricidade, gás e água quente (US$ 1,6 bilhões). Para a indústria foram destinados até novembro US$ 5,4 bilhões (31,4% do total), sendo que os segmentos mais beneficiados foram os de alimentos e bebidas (US$ 1,9 bilhões), produtos químicos (US$ 702 milhões) e veículos automotores (US$ 662 milhões). O agronegócio recebeu somente US$ 186 milhões. Do ponto de vista meramente contábil do balanço de pagamentos, não é grave que a entrada de investimentos do exterior tenha sido modesta este ano. Graças ao ritmo forte das exportações e a um certo declínio no ímpeto importador por causa do crescimento menor do PIB, o saldo em conta corrente deverá fechar este ano em US$ 15,4 bilhões - algo próximo a 2% do PIB -, o valor mais elevado já registrado na série estatística do Banco Central, iniciada em 1947, sendo que o resultado acumulado até novembro soma US$ 13,711 bilhões. As projeções oficiais do BC apontam novo saldo positivo em dezembro, de US$ 1,7 bilhão. O baixo ingresso de investimentos para o setor produto torna-se, porém, preocupante se a questão for analisada levando-se em conta a necessidade de o país crescer de forma mais acelerada e constante. Nos últimos anos, a expansão do PIB recebeu um impulso essencial vindo das exportações. Para manter o ritmo de incremento, as vendas ao exterior teriam que contar ou com a ajuda de uma política cambial bem mais favorável do que a atual ou com novos investimentos em projetos de ampliação da produção de bens destinados ao mercado internacional. No atual cenário, é desanimador que se chegue à conclusão de que nenhum desses dois fatores deverá prevalecer no próximo ano.