Título: Real valorizado afasta argentinos de SC
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Brasil, p. A3

Relações externas Entrada de carros pela fronteira caiu 11% e taxa de ocupação dos hotéis é de apenas 72%

A porção norte de Florianópolis, formada por bairros como Cachoeira do Bom Jesus, Ingleses e Canasvieiras, está menos argentina neste verão. Tradicionais redutos de veraneio de turistas do país vizinho, os bairros registram queda no movimento em relação ao ano passado. O comércio apurou recuo de vendas na comparação com o início de janeiro de 2005 e há hotéis e pousadas ainda com leitos disponíveis neste mês, raridade até o verão de 2000/2001, antes da crise econômica argentina. "O Brasil ficou mais caro para os argentinos", destaca o empresário Tarcísio Schmitt, presidente do sindicato de hotéis, restaurantes e bares de Florianópolis. A desvalorização de 19% do dólar em relação ao real em 2005 é tida como a principal explicação para uma menor visitação. Segundo o sindicato dos hotéis, a taxa de ocupação caiu 11,3 pontos percentuais - saiu de 83,5% para 72,2% - na primeira semana de janeiro em relação ao mesmo período do ano passado, e isso se deve principalmente ao fluxo menor do país vizinho. "Os argentinos não vieram com a força que esperávamos", confirma o dono dos hotéis Praiatur, em Florianópolis, Volnei Koch. "A Argentina já correspondeu a 70% do fluxo de turistas nos nossos hotéis. Hoje, representa apenas 30%", destaca Koch, dizendo que os paulistas estão substituindo em parte o hóspede argentino. Neste início de janeiro, a taxa de ocupação na rede Praiatur é de 87%, menor do que a do ano anterior( 90%). Santa Catarina sempre recebeu grande volume de turistas argentinos, pelo atrativo do litoral e proximidade geográfica. Entre 2001/2002, com a crise Argentina, o fluxo caiu bruscamente e uma recuperação só começou a ser sentida a partir de 2003/2004, juntamente com a melhora da economia do país vizinho, mas nada tão forte como o fim dos anos 90. Muitos empresários acreditam que aquela situação jamais se repetirá. No ano passado, segundo dados da Santa Catarina Turismo (Santur), dentre o total de estrangeiros (202.211), os argentinos ainda representavam a maior fatia, 74%, seguidos por paraguaios, com apenas 12%. Os europeus que mais vieram foram os alemães, mas representaram apenas 1,4%. Estatísticas oficiais da Santur sobre a atual temporada ainda não saíram. O órgão, ligado ao governo, começou dia 11 uma pesquisa que se estenderá até fevereiro. O comércio é um dos setores que mais têm sofrido com o fluxo menor. Na apuração da Câmara de Dirigentes Lojistas de Florianópolis, nos primeiros 15 dias de janeiro houve queda de vendas de 10% em relação ao mesmo período do ano passado. O menor número de argentinos é tido como um dos fatores para isso, já que os centros comerciais dos bairros Ingleses e Canasvieiras são representativos no resultado, explica o vice-presidente da entidade, Itamar Cavalli. "O câmbio menos favorável contribui para que os nossos produtos não sejam tão interessantes aos argentinos." Beto Barreiro, dono do Box 32, restaurante no mercado público, diz que os argentinos que apareceram gastaram menos. Representavam 10% do movimento. Agora, apenas 5%. "Os turistas comentam que os preços em geral, transformados em dólares, são sensivelmente superiores aos praticados por bens e serviços similares oferecidos na Argentina", afirma o cônsul da Argentina em Santa Catarina, Valdo Amadeo Palmai. Os preços do combustível, por exemplo, estão 100% mais altos que na Argentina. No município de Dionísio Cerqueira, no posto da Polícia Federal onde fica o setor de imigração que controla as entradas de argentinos pela rodovia na fronteira entre Santa Catarina e Argentina, os números mostram queda de turistas. De 1º de janeiro até dia 15 de 2006, a média era de 815 argentinos entrando por dia em Santa Catarina. No ano anterior, a média era de 918 visitantes/dia, queda de 11%. Na avaliação de comerciantes e donos de hotéis, muitos argentinos preferiram outros locais para o veraneio este ano, como Punta Del Este e Flórida, cujos custos de viagem ficaram mais próximos aos do Brasil. Para os empresários, no entanto, ainda é cedo para afirmar que a temporada será pior em Santa Catarina do que no ano passado. Além do Carnaval no fim de fevereiro - que prolonga o período de veraneio - há um calor forte no Estado, com temperaturas acima de 35 ºC desde o início de janeiro, o que ainda pode convencer mais argentinos a visitar Santa Catarina.