Título: Mercadante critica Alckmin e cria tensão no Senado
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Política, p. A4

Crise ACM contra-ataca e acusa petistas de terem assassinado os prefeitos de Campinas e Santo André

A disputa presidencial e em São Paulo e os danos que a CPI dos Bingos têm produzido à imagem do governo levaram ontem o Senado a um clima de descontrole. Acumulando as funções de líder do Governo e de pré-candidato ao governo paulista, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) cobrou um debate na CPI sobre a proibição dos jogos, protestou contra a condução política da Comissão e atacou indiretamente o governador Geraldo Alckmin (PSDB). O petista incitou reações de tucanos e de árduos defensores do governador, como o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Ao longo de mais de uma hora de troca de farpas, o ambiente esquentou no plenário do Senado: ACM disse que petistas assassinaram os prefeitos de Santo André e de Campinas. O líder do governo cobrou do pefelista os nomes dos assassinos. O presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE), declarou que, apesar do apreço pessoal, não "agüenta" mais Mercadante e lhe disse "adeus". Ao fim do episódio, os dois se cumprimentaram secamente. Ficou evidente que a convivência está comprometida. Superada a irritação inicial, num discurso firme, mas sereno, Tasso afirmou que o PT foi contaminado pela "síndrome da desfaçatez". Disse que o mal que o PT provocou ao Brasil não foi na economia nem na administração. Foi na ética. E ética, continuou, não abrange somente o aspecto honestidade, uma virtude que, aliás, - disse ele -, é "da maioria dos petistas". "Ética é um conjunto de atitudes, a elegância no trato, o relacionamento entre as pessoas, a lealdade, mesmo na divergência", argumentou. "Até hoje o PT não enfrentou de frente nenhum de seus problemas. Tem tentado sistematicamente jogar os problemas nos outros, de maneira falsa ou caluniosa. A grande glória do PT é dizer: 'sou sujo sim, mas os outros também são. Roubo sim, mas os outros também'. Sujou geral é a grande alegria do PT." O debate começou de forma inusitada. Mercadante solicitou a palavra como líder. No discurso, reconheceu que é fundamental a CPI dos Bingos investigar a fundo o caso do contrato da multinacional Gtech com a Caixa Econômica Federal. Criticou, no entanto, o fato de um parecer do Tribunal de Contas da União, isentando de responsabilidade a atual diretoria da CEF, ter sido desconsiderado pela CPI. Foi uma reação ao relatório parcial da CPI sugerindo indiciamentos de 34 pessoas, entre elas, dirigentes da Caixa e ex-assessores do ministro Antonio Palocci. Mercadante defendeu que a CPI se posicione sobre os bingos e jogos de caça-níqueis. Ele citou o caso de São Paulo e leu uma carta do deputado estadual Romeu Tuma Júnior (PMDB) com críticas ao veto de Alckmin à lei que proibia as máquinas de caça-níqueis em bares e restaurantes. Na carta, o deputado diz que Alckmin tem estilo totalitário e não aceita nada que contrarie os interesses do empresariado. Tuma Júnior alega ainda que o governador não tem compromisso com o combate à corrupção. "Procure saber os motivos dos vetos. Vossa Excelência tem que justificar o veto e não atacar o governador Alckmin", reagiu ACM. "Vossa Excelência quer enfraquecer o candidato que vai disputar com Lula. Toda vez que Vossa Excelência vem e defende o Governo, defende o indefensável. É muita coragem em fazê-lo", emendou. O pefelista disse que, se o petista considera válidas as críticas de Romeu Tuma Júnior, também deveria dar ouvidos às acusações que o senador Romeu Tuma (PFL-SP) faz em Brasília sobre o assassinato do prefeito Celso Daniel. Mercadante argumentou que apenas leu a carta, sem fazer pré-julgamentos. O bate-boca esquentou. "O que está aborrecendo o senador Mercadante é que a CPI dos Bingos está realmente desmascarando todos os atos lesivos ao país, acobertados pelo PT, até mesmo os crimes praticados pelos petistas com seus correligionários, como já está muito claro o assassinato de Celso Daniel e do prefeito Toninho de Campinas", disparou o pefelista. Em seguida, acusou o PT de matar o legista que apontou os sinais de tortura em Daniel antes da morte. Mercadante, aos gritos, disse que as acusações de ACM eram inaceitáveis. "Vocês mataram quem? Quem matou? Quem está encobrindo o quê? Me diga os nomes. Quem assassinou? Porque eu quero saber para tomar todas as providências", questionou o petista. "Não estou dizendo que Vossa Excelência matou ninguém não, estou dizendo que seus correligionários mataram", retrucou ACM. O senador do PFL não mediu palavras. "Vocês mataram o Celso Daniel", disse na tribuna. "Todos foram mortos. Já mataram oito", continuou ACM, acrescentando que Mercadante faz parte do grupo do governo que faz oposição à política econômica. De volta à tribuna, Mercadante enumerou feitos do governo Lula. Disse que querer a queda dos juros não é deslegitimar a política econômica. O PT, segundo ele, saberá fazer autocrítica e corrigir os erros que cometeu. Pediu a ACM que trate com respeito o caso Celso Daniel e avisou a Tasso que mantém por ele o mesmo apreço.