Título: Centrais insistem em antecipar reajuste do mínimo
Autor: Mônica Izaguirre e Cristiano Romero
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Política, p. A6

Crise Falta de acordo adia decisão sobre o aumento e correção da tabela do Imposto de Renda para terça-feira

A enorme expectativa que o governo federal gerou em torno do anúncio do novo salário mínimo, previsto para ontem, acabou frustrada. Depois de sete horas de reunião com as centrais sindicais de trabalhadores e de idas e vindas ao Palácio do Planalto, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que a decisão só será tomada na terça-feira, quando haverá novo encontro com os sindicalistas, desta vez, com a participação do presidente Lula. O reajuste da tabela de descontos do Imposto de Renda da Pessoa Física, incluído nas negociações, tampouco foi decidido. O fato de o próprio presidente da República presidir a próxima reunião com as centrais, sinaliza, segundo Marinho, a determinação em não adiar mais a definição das duas questões. Conforme ele, não foi possível dar uma resposta conclusiva aos sindicalistas ontem porque são necessários novos cálculos da Previdência Social e da Secretaria do Tesouro Nacional sobre o impacto do aumento do mínimo nos gastos da União com benefícios previdenciários e assistenciais. "Ainda não chegamos, mas tenho convicção de que chegaremos a um acordo", afirmou o ministro. Quando ele se sentou para negociar com os representantes dos trabalhadores, ontem, perto do meio dia, a equipe econômica do governo já tinha decidido o que oferecer. Na noite anterior, os ministros da área se reuniram e bateram o martelo no reajuste para R$ 350, a partir de maio. Segundo eles, isso elevará o mínimo ao seu maior valor real dos últimos 25 anos, se considerada a inflação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Os sindicalistas - que chegaram pedindo o mesmo valor, só que a partir de março - não aceitaram a oferta. Por outro lado, flexibilizaram a reivindicação, fazendo uma contraproposta de reajuste para R$ 350 a partir de abril. O governo não cedeu, em princípio, mas compromete-se a pensar. "O governo só não faz acordo se não quiser", disse o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, numa alusão ao fato de as centrais terem cedido. No primeiro encontro, elas tinham pedido R$ 400. O atendimento dessa última proposta das centrais exigiria colocar no Orçamento Federal de 2006 R$ 5,637 bilhões a mais do que já está previsto no projeto original em tramitação no Congresso (R$ 3,3 bilhões), para bancar o impacto do novo mínimo sobre as despesas da União. Isso é cerca de R$ 1 bilhão além do que seria necessário se o reajuste para R$ 350 fosse dado em maio (R$ 4,649 bilhões), segundo números preliminares do Ministério do Planejamento. Luiz Marinho disse que, se fugisse completamente da realidade, a contraproposta dos sindicalistas teria sido rejeitada de imediato. O pedido de tempo para responder, segundo ele, decorre da cautela com que é preciso tratar todos as demandas com impacto no Orçamento da União. O governo ficou de responder ainda se aceita ou não um reajuste de 8% nos descontos do IRPF. Nesse ponto também houve flexibilização por parte das centrais sindicais, que queriam, inicialmente, 10%. Conforme Marinho, um reajuste de 8% provocaria uma redução de R$ 1,1 bilhão aproximadamente nas receitas do governo federal em 2006.