Título: Alckmin é o preferido das bancadas do PSDB
Autor: Paulo de Tarso Lyra e Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Política, p. A7

Eleições Compromisso de Serra em cumprir seu mandato na Prefeitura de São Paulo foi determinante na escolha

O embate interno do PSDB para a escolha do candidato do partido à Presidência da República dividiu as bancadas tucanas no Congresso. O acirramento da disputa entre o prefeito de São Paulo, José Serra, e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, rachou a sigla na Câmara e levou os senadores a adotarem um toque de silêncio forçado. Com o objetivo de fazer uma radiografia do posicionamento dos parlamentares, o Valor fez uma enquete com os parlamentares tucanos. Dos 52 deputados, 43 foram ouvidos e o resultado foi uma ligeira vantagem para Alckmin: 15 contra 13, sendo que 15 preferiram não se posicionar. Nove deputados não foram encontrados. Nas conversas com os parlamentares, foram detectadas duas posições unânimes: a de que a realização de uma prévia está praticamente descartada e a certeza de que o PSDB está bem servido de opções para a disputa. "Temos de escolher entre o Ronaldo e o Ronaldinho Gaúcho. Temos de fazer com que esse bom problema jogue a nosso favor. Não há espaço para desunião", afirmou o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). O deputado Antônio Carlos Pannunzio já tem a fórmula para a escolha. "Temos de ouvir os líderes, os governadores e saber da viabilidade política de cada um. Mas é preciso também ter como base um trabalho científico de pesquisas e ver qual candidato tem maior potencial de crescimento", avaliou. Tesoureiro do PSDB durante a campanha de José Serra à Presidência em 2002, o deputado Márcio Fortes (RJ) não quer nem ouvir falar de divisão interna. Para ele, é hora de as lideranças partidárias se entenderem. "Queremos vencer as eleições e mudar este país", resumiu o tucano. O ex-presidente do partido e senador Eduardo Azeredo (MG) faz coro, e sugeriu uma maneira de superação do impasse: "Precisamos levar em conta o critério das alianças e ver qual dos candidatos ampliaria as possibilidades de parcerias eleitorais e de governo". Sobre a realização de uma prévia, o deputado Gonzaga Motta (PSDB-CE) definiu bem o espírito do partido: "Como diz o ditado, partido que briga em convenção perde a eleição". A luta pela união interna do partido levou o presidente do PSDB, o senador Tasso Jereissati (CE), a tentar articular um movimento nas bancadas da Câmara e do Senado para boicotar as eleições simuladas pela imprensa para mostrar a preferência das bancadas. Ele pediu aos colegas senadores para não participar das enquetes. A lei do silêncio imperou. Dos oito senadores ouvidos pela reportagem, seis preferiram não opinar. Apenas dois abriram o voto, um para cada candidato. Tasso defendeu que as bancadas não entrem no debate por meio de votações na imprensa. Teme o acirramento dos ânimos e maiores dificuldades de uma escolha de consenso. "Está se criando um problema sério, de acirramento, que só atrapalharia. Não interessa a ninguém um posicionamento da bancada agora", opinou a deputada Zulaiê Cobra (PSDB-SP), minutos depois de conversar com Tasso sobre o assunto. A movimentação de Tasso fez aumentar o número de abstenções. Muitos deputados afirmaram que apoiariam a definição da executiva nacional, qualquer que fosse. Curiosamente, o embate entre Alckmin e Serra demonstra todo o poder do governo de Minas Gerais, Aécio Neves, outro pré-candidato antes da polarização entre os dois paulistas. Dos cinco deputados da bancada mineira, quatro disseram que só vão se posicionar depois de Aécio tomar partido. A favor de Alckmin, pesa o fato dele estar no fim de seu segundo mandato à frente do governo de São Paulo. Muitos dos deputados que preferem o governo, lembram do imenso desgaste que poderia resultar na saída prematura de Serra da prefeitura. No início do mandato, o ex-ministro da Saúde foi a um cartório e registrou carta na qual se comprometia a seguir até o final de seu mandato. "Serra acabou de virar prefeito. Ele tem todo um mandato pela frente, pode esperar. E tem aquela história do compromisso firmado. A hora é do Alckmin", analisou um "eleitor" do governador de São Paulo. Presidente do diretório do PSDB em Mato Grosso, o senador Antero Paes de Barros, vai reunir neste fim de semana o diretório estadual para bater o martelo. "Tenho bom relacionamento com os dois. Vou deixar para o partido no Estado resolver". Ontem, de Oxford, na Inglaterra, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, afirmou que ainda não escolheu quem apoiará. Ele desmentiu os rumores de que teria preferência por Serra, em detrimento de Alckmin. FHC cobrou, entretanto, uma tomada de posição de Serra, sobre se fica ou não na Prefeitura de São Paulo, já que Alckmin já disse que sai, mesmo se for preterido. (Com agências noticiosas)