Título: Serra e Alckmin convergem para linha única
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Política, p. A8

Mergulhados na disputa interna pela candidatura do PSDB à Presidência, o prefeito paulistano José Serra e o governador paulista, Geraldo Alckmin, não demarcaram diferenças no terreno econômico e poderão não fazê-lo: os critérios para a escolha do candidato passam mais pelo desempenho atual e potencial nas pesquisas e capacidade de atrair aliados do que a discussão de políticas públicas. Identificado com uma visão liberal da economia, Alckmin tenta aproximar-se do figurino de Serra, um dos formuladores do pensamento econômico do partido. Quando indagado, o governador se posiciona contra a independência do Banco Central e a favor da política de indução de crescimento econômico, como o adversário. Para isso, em sua fase de aproximação com economistas, Alckmin ligou-se a antigos auxiliares do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que trabalham acima de tudo pelo partido. É o caso do ex-ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, do ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, do secretário de Planejamento de Alckmin e ex-ministro do Planejamento Martus Tavares. O governador buscou conselhos até do economista José Roberto Afonso, assessor de Serra na campanha presidencial de 2002 e um colaborador permanentes. Afonso fez análises tanto para Alckmin como para o governador mineiro Aécio Neves. Com pensamento conhecido, Serra não buscou lançar pontes nessa área. Nas últimas vezes que tratou com Afonso, discutiu temas concernentes à situação municipal. Se tornar-se candidato, Serra deverá ter o apoio de boa parte dos interlocutores do governador para questões financeiras. Se Alckmin conseguir a candidatura, o preferido de seu grupo para coordenar o programa de governo e ter papel central em uma eventual governo é o economista Yoshiaki Nakano, diretor da Faculdade de Economia da Fundação Getúlio Vargas. A aliados, o próprio Alckmin comentou com entusiasmo a possibilidade de ter Nakano em sua equipe. No meio empresarial a possibilidade é vista com ceticismo. Duvida-se que Nakano deixaria a FGV, onde o curso de economia foi estruturado por ele, para voltar à vida pública. Peça central no ajuste da máquina promovido pelo governador Mário Covas entre 1995 e 2001, quando zerou um déficit orçamentário de 24,7% nos dois primeiros anos do governo, Nakano afastou-se da secretaria da Fazenda dois meses antes da morte de Covas e ascensão de Alckmin. Em entrevistas, Nakano defendeu uma taxa de juros baixa, da valorização do real em relação ao dólar e de uma nova lei fiscal, que congelaria gastos correntes do governo, mas não investimentos. Nada essencialmente diferente do pensamento do grupo próximo a Serra. Em férias, Nakano não foi localizado por este jornal. Caso o presidente da sigla, o senador cearense Tasso Jereissati, assuma a coordenação da campanha, é previsível que seu assessor, o economista da Escola de Pós-Graduação da FGV do Rio, Samuel Pessoa, se incorpore à campanha do candidato presidencial. Pessoa já comanda uma equipe dentro do PSDB para elaborar um documento com as diretrizes de um programa de governo. (CF e CJ)