Título: Mulher da classe C tem filhos mais informados e sente-se frustrada
Autor: Eliane Sobral
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Empresas &, p. B1

Comportamento

A mulher da classe C está frustrada. As que não trabalham fora acham que ser dona-de-casa hoje em dia é bem mais complicado do que foi tempos atrás. Educar filhos, principalmente quando estão na adolescência, tornou-se um desafio para elas - que consideram que, pela quantidade de informação que esses jovens têm atualmente, ficou mais difícil controla-los. Essas donas-de-casa não se sentem tão bem informadas quanto os filhos. As mulheres que estão no mercado de trabalho, quase sempre sentem que têm um emprego, não uma carreira. Elas notam que o mercado de trabalho está mais competitivo e não se sentem suficientemente preparadas para enfrentar a concorrência. As conclusões fazem parte da pesquisa "Mind & Mood", realizada pela agência de publicidade Giovanni, FCB em novembro passado. O diretor de criação da agência, Adilson Xavier explica que a pesquisa, qualitativa, foi realizada com pequenos grupos de mulheres com idades entre 20 e 45 anos, com renda mensal de R$ 600 a R$ 2 mil, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. A mídia e a publicidade, diz Xavier, têm duplo papel para as mulheres da classe C ouvidas pela Giovanni. Por um lado, cresceu muito o número de programas na televisão e de revistas dirigidas ao público feminino, o que é bastante positivo, observa ele. A contrapartida é que a mídia e a publicidade despertam desejos que a mulher de menor poder aquisitivo não pode satisfazer. "Ela tem acesso à informação, vê outras mulheres melhor sucedidas que ela, que estão mais bonitas. Ela quer se manter atraente mas não tem renda para isso e aí vem a frustração. Afinal, ela sabe o que está perdendo", diz ele. Apesar do desconforto vivido pelas mulheres consultadas pela pesquisa, Xavier diz que o poder feminino continua em alta, e mais, em rápida ascensão. Na propaganda mesmo, a utilização de elementos femininos na comunicação de uma marca, um produto ou um conceito é cada vez mais recorrente". Xavier cita a campanha de Baygon, produzido para as Ceras Johnson cujo slogan é 'Baygon é Poder'. "Isso traduz o sentimento da mulher de hoje. E independe da classe social. Mesmo as de menor poder aquisitivo têm consciência de que quem manda são elas".