Título: Alta do cobre reduz margem de fabricantes de cabos e fios
Autor: Natalia Gómez
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Empresas &, p. B6

Commodities Transformadores dizem operar com defasagem de 10%

Os preços recordes alcançados pelo cobre nos últimos meses já começam a afetar as margens de ganho dos fabricantes de fios e cabos, que enfrentam dificuldades para repassar os aumentos para o preço final. Ainda existe uma defasagem de 10% nos preços cobrados por eles, levando em conta o custo não repassado de 4% em 2004 e mais 6% remanescentes do ano passado, de acordo com a entidade que representa o setor, o Sindicel. Os fabricantes atribuem a baixa demanda para a construção civil como um dos fatores que dificultam o repasse. No ano passado, as vendas para o setor caíram 5%. O roubo de cobre, que tem aumentado a cada ano, também é um agravante, porque os fabricantes que atuam na informalidade não sofrem altas nos custos e conseguem oferecer preços mais competitivos para o mercado, alegam empresários. Em 2005, até setembro, foram roubadas 708 toneladas, mais que o dobro do volume ocorrido ao longo de 2004 - 290 toneladas. "As empresas que trabalham na informalidade não tiveram tanta alta nos custos e não precisaram aumentar preços", diz Mario Fernando Capalbo, diretor superintendente da Prysmian, fabricante de cabos que até o ano passado pertencia ao grupo Pirelli. Os reajustes que foram feitos pela indústria transformadora de cobre ao longo de 2005, de aproximadamente 11%, chegaram a afetar as vendas entre setembro e novembro, mas se normalizaram a partir de dezembro. A explicação é que elas buscaram recompor seus estoques, segundo Sergio Aredes, presidente do Sindicel. O fato de o cobre representar apenas cerca de 1% dos custos da construção limita os efeitos da alta. "Ninguém cancela projetos por causa disso", afirma Capalbo, da Prysmian. O impacto mais forte se observou no segmento de cabos nus de cobre, muito utilizados para construção civil. Além de ser alvo da concorrência informal, este tipo de cabo é afetado pela alta da matéria-prima com mais intensidade, por ser feito apenas de cobre. Para fugir das perdas, a fabricante Ficap diminuiu as vendas desse produto em 25% por causa das margens reduzidas e está focando em cabos especiais, para a indústria naval e offshore. "Decidimos investir no que tinha maior retorno", diz o diretor presidente da companhia, Agílio Macedo. O impacto da mudança foi uma queda de 3 a 4% nas vendas em 2005. Mesmo assim, a companhia está otimista com a demanda crescente da indústria. A Prysmian, que em 2005 aumentou seus preços em 10 a 15%, ainda pretende fazer um reajuste de mais 5%. Ao contrário da negociação com as revendas para construção, os repasses para concessionárias de energia e montadoras são feitos automaticamente, usando como patamar a média da semana ou do mês anterior, o que reduz as perdas, segundo o executivo. Cerca de metade negócios da Prysmian são voltados para revendedores. No segundo semestre, a empresa vai colocar em operação uma fábrica em Vila Velha (ES) para fabricação de cabos especiais para a exploração de petróleo em águas marinhas, conhecidos como cabos umbilicais. Em alguns casos, a alta da matéria-prima reduz o capital de giro a ponto de limitar alguns planos de investimento. A fabricante IPCE, que planejava construir uma nova sede até junho, com um investimento de R$ 22 milhões, já adiou os planos para novembro, de acordo com o presidente Adhemar Camardella. Ele conta que no ano passado as vendas caíram 15% em volume. No último dia 15, a IPCE fez um reajuste de 5,5% nos preços e ainda tem 2,5 a 3% de defasagem.