Título: Mercado eleva projeções de alta de preço
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Empresas &, p. B7

Minério de ferro Analistas estimam aumentos para 2006 de 10% a 28%; primeiras conversas iniciaram no Japão

Analistas do setor de mineração de bancos nacionais e estrangeiros fazem uma nova rodada de projeções para o preço do minério de ferro a vigorar neste ano. Os percentuais de reajuste variam de 10% a 28%, piso e teto da última previsão divulgada ontem, pela Merrill Lynch. Até então, a maior projeção, de 25%, tinha sido do Unibanco. O Itaú trabalha com 15% e o Credit Suisse First Boston (CSFB) tem 15% como premissa, mas não descarta um aumento acima de 20%. Pelos cálculos de RogerDowney, analista de mineração do CSFB, um reajuste de 20% no preço atual (US$ 40 a tonelada, tipo fino de Carajás) representaria US$ 8 no preço total da bobina à quente, hoje cotada a US$ 500 a tonelada, FOB, no mercado internacional. O custo do minério de ferro (gusa) equivale a US$ 60 dólares ou 12% na produção da bobina à quente, percentual que saltaria para 14% com a alta de 20%. O impacto do aumento seria pois de apenas 2 pontos percentuais no preço da bobina. Downey não descarta um ajuste acima de 20%, pois em seu cenário, o mercado está muito forte, até mais apertado que em 2005. "O mercado transoceânico de minério de ferro foi em 2004 de 602 milhões de toneladas, chegou a 670 milhões em 2005 e pode ir 725 milhões neste ano, puxado por novas expansões das mineradoras. Há espaço para uma boa negociação." Paoli di Sora, do Itaú, prevê 15%. "Estou dentro da média do mercado, nem acima, nem abaixo". Seu argumento para os 15% apóia-se no mercado chinês, o maior de minério de ferro do mundo. Diz que o aço chinês teve uma queda de preço de 50% desde o primeiro trimestre de 2005 e a margem de ganho das siderúrgicas locais está negativa. "Se houver alguém ganhando de US$ 12 a US$ 30 de margem são as mais competitivas, como a Baosteel e outras grandes, o que não garante retorno. As médias e pequenas estão no vermelho." Diante disso, o analista acredita que haverá pouca margem de manobra para as mineradoras imporem um reajuste acima de 15%. "Não acredito que a Vale queira matar a galinha dos ovos de ouro (a China)", afirmou. Downey discorda dessa avaliação. Ele considera que a situação das usinas melhorou bastante. Em 2005, a China produziu 349 milhões de toneladas de aço. Este ano, deve chegar a 400 milhões. A maior parte vai para consumo interno e não há indícios de desaquecimento na economia chinesa. Segundo ele, o preço do aço das usinas chinesas já começou a subir neste início de ano. Ele disse que há um novo fator: as siderúrgicas tiveram muito pouco impacto da alta de 71,5% do minério no ano passado devido à queda do preço do frete. "O FOB subiu, mas o CIF baixou. A queda do frete mais do que compensou o aumento do minério para os chineses". Já baixo de US$ 50 a tonelada (CST-China) para US$ 30; já se projeta US$ 23. No momento, ainda não há novidades na frente das negociações que ocorreram essa semana no Japão. É a primeira rodada oficial, já que em dezembro foram conversações prévias entre as usinas locais e as mineradoras (Vale e as australianas). Por enquanto, é um jogo de estudar as intenções do adversário, relatou uma fonte. Notícias de que a Baosteel encontrou-se com a BHP Billiton dia 12 em Cingapura, antes do encontro oficial (16) pode, segundo fontes, apressar os japoneses a fechar um acordo, receosos de que os chineses "furem" o tradicional sistema de negociação: o primeiro acordo de preço acertado vale para todas as siderúrgicas do mundo.