Título: Decisão do Copom frustra mas não altera projeções
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Finanças, p. C1

Juros Economistas mantêm estimativas para o PIB em torno de 3%; crédito deve continuar em expansão

O conservadorismo do Comitê de Política Monetária (Copom) com o ritmo de redução dos juros irritou, mas não surpreendeu ninguém. Economistas ligados a diferentes segmentos ouvidos ontem pelo Valor acham que a redução de 0,75 ponto percentual da taxa básica de juros (Selic) não compromete a perspectiva de crescimento da economia do país - que não chega a ser animadora -, tampouco de crédito para 2006. Adriano Pitoli e Guilherme Maia, da consultoria Tendências, mantém a projeção de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) em 3,2%, que na verdade eles já haviam ajustado para baixo, de 3,4%, no fim de 2005, não por causa da decisão de ontem, e sim pelo desaquecimento observado no terceiro trimestre de 2005 (a expansão de 2006 partiria de um patamar menor). O câmbio deve fechar o ano em R$ 2,35 por dólar, segundo eles, como resultado de uma leve depreciação provocada por atuações pontuais do BC. Para Pitoli, o crédito vai continuar crescendo em 2006, principalmente para pessoas físicas, ainda influenciado pelos efeitos das mudanças estruturais consolidadas nos últimos dois anos. Ele se refere às novas regras do crédito consignado, da Central de Risco do Banco Central (um tipo de cadastro positivo), do crédito imobiliário e as parcerias entre bancos e redes de varejo. "Essas mudanças estruturais mais do que compensaram o aperto monetário até agora", comenta o economista da Tendências, lembrando que, embora lenta, a direção dos juros é para baixo, o que favorece a expansão do crédito pela queda do custo de captação das instituições financeiras e alongamento dos prazos dos empréstimos. Pitoli estima que o volume de empréstimos terá um crescimento real (deflacionado pelo IPCA) de 18,5% nas linhas para pessoas físicas e 10% para as empresas. Marcel Solimeo, economista chefe da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), também acha que o crédito continua crescendo, porém num ritmo menor, já que será sobre uma base muito maior (em 2005, o crescimento chegou a 20%). Solimeo disse que a decisão do Copom frustrou as expectativas do comércio, mas que ele mantém a projeção de uma expansão de 3% do PIB para 2006 - "vai ser difícil passar disso", comentou. Segundo o economista da ACSP, até agora os indicadores de desaceleração são expressivos. O número de consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), administrado pela entidade, cresceu apenas 1,8% na primeira quinzena de janeiro comparado ao mesmo período de 2005. Tradicionalmente, janeiro é um mês fraco para o comércio mas, segundo Solimeo, na primeira quinzena de 2005, as consultas ao SPC cresceram 8%. Ricardo Amorim, do Banco WestLB, também mantém suas projeções. Ele aposta que a Selic chegará ao fim do ano em 14,5% e em 2007 a 12%, mesmo que em meados deste ano o BC dê uma parada nas reduções graduais para sentir a evolução da atividade. Amorim acha que o cenário internacional continua benéfico para o Brasil. "O cenário básico é positivo, com liquidez abundante e preços elevados para as commodities." Mas ele aponta alguns riscos que podem alterar todo o quadro: o estouro de uma bolha imobiliária, um "pouso forçado" da economia chinesa e turbulências do mercado financeiro internacional relacionadas a um ajuste das posições dos investidores em papéis de países emergentes e de empresas que enfrentam uma fase ruim, como as do setor automobilístico. Em qualquer uma dessas hipóteses, poderá haver uma forte alta dos juros americanos, queda nos preços dos ativos e das commodities internacionais, interrompendo o fluxo de capitais estrangeiros, tanto para o Brasil quanto para outros emergentes. "São riscos pequenos individualmente mas que podem desencadear problemas maiores", afirma o economista do WestLB. Há ainda um outro fator de risco às projeções para a economia brasileira: o excesso de gastos do governo em antecipação às eleições, que pode acelerar a inflação com a liberação maior de recursos para obras e o reajuste do salário mínimo. "A expansão fiscal é o principal risco à inflação e pode obrigar o Banco Central a interromper a queda da Selic", afirma Amorim.