Título: Bancos ampliam posição vendida em câmbio e lucram com taxa alta
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Finanças, p. C2

Os altos juros internos levaram os bancos a ampliarem ainda mais as suas posições vendidas em câmbio, para lucrar com operações de arbitragem. Dados do Banco Central mostram que, em 16 de janeiro, os bancos mantinham exposição de US$ 4,466 bilhões no mercado à vista de dólares, o segundo maior já registrado da história, atrás apenas dos US$ 4,586 bilhões ocorridos em março de 2003. Os números mostram que não é apenas o fluxo de dólares do comércio exterior e de investimentos diretos que estão reforçando a tendência de apreciação do câmbio. Há também a pressão vendedora dos bancos, que estão tomando financiamentos de curto prazo no interbancário internacional, pagando juros mais baixos, para comprar reais e aplicar no mercado doméstico. As estimativas são de que o BC tenha comprado, nos 11 primeiros dias do mês, US$ 1,540 bilhão no mercado de câmbio. Desse total, US$ 1,185 bilhão foram ingressos físicos de moeda, resultado de sobras nas operações de comércio exterior e financeiras (fluxo de investimentos, pagamentos de serviços etc). Outros US$ 355 milhões, ou 23,05% das aquisições feitas pela autoridade monetária, referem-se à ampliação de posição vendida dos bancos em moeda estrangeira, que havia encerrado 2005 em US$ 4,111 bilhões. O principal risco de o BC absorver moeda originada da ampliação da posição vendida dos bancos - e não do genuíno ingresso de divisas no mercado primário - é que, no caso de uma mudança de humor nos mercados, os bancos tendem a reverter rapidamente sua exposição em moeda estrangeira, amplificando eventuais instabilidades. A posição vendida dos bancos em 16 de janeiro significava que, naquela data, os bancos tinham obtido cerca de R$ 10 bilhões nas suas operações de venda de moeda contratadas com o BC. Dois fatores explicam o forte interesse dos bancos em ampliar as posições vendidas. Primeiro, o grande diferencial de juros internos e externos. Segundo: as agressivas atuações do BC no mercado de câmbio deslocam a taxa de câmbio de sua posição de equilíbrio, reforçando a expectativa de apreciação do real e, junto com ela, elevam o retorno esperado dos bancos que fazem operações de arbitragem. Em março de 2003, quando a posição vendida em câmbio dos bancos no mercado à vista também bateu recordes, vivia-se uma situação semelhante. De um lado, havia a perspectiva de valorização cambial. De fato, a cotação média do dólar em março de 2003 foi de R$ 3,45, e houve recuo para R$ 2,93 no final daquele ano. De outro lado, os juros eram também elevados: a Selic efetiva praticada pelo BC em março de 2003 foi de 26,32% ao ano. Os dados divulgados ontem pelo Banco Central mostram que o comércio exterior se mantém vigoroso, com saldo de US$ 1,726 bilhão até 16 de janeiro. As exportações somam US$ 4,483 bilhões no período, e as importações, US$ 2,758 bilhões. O segmento financeiro registrava um déficit de US$ 541 milhões, certamente influenciado pelas compras realizadas pelo Tesouro Nacional por meio do Banco do Brasil. O setor privado vem mantendo alto percentual de rolagem de compromissos em janeiro, com uma taxa de 103%, sendo 96% em papéis e 212% em empréstimos diretos. Os investimentos estrangeiros diretos somavam US$ 800 milhões até ontem, pelo câmbio liquidado; as remessas de lucros e dividendos estavam em US$ 834 milhões; e o pagamento de juros, em US$ 1,130 bilhão.