Título: Conta corrente brasileira crava 3º superávit seguido
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Finanças, p. C8

Resultado Externo Saldo positivo do balanço atinge US$ 14 bi em 2005

O país registrou em 2005 um superávit em conta corrente de US$ 14,199 bilhões, ou 1,79% do Produto Interno Bruto (PIB). É o terceiro ano seguido em que o Brasil registra saldo positivo em conta corrente, mas houve desaceleração em relação ao percentual ocorrido no ano anterior. Em 2004, o saldo em conta corrente havia sido de 1,94% do PIB. O BC projeta para este ano um saldo em conta corrente ainda menor, de 0,73% do PIB. "Estamos caminhando para termos pequenos déficits", prevê Altamir Lopes, chefe do Departamento Econômico do BC. "Economias emergentes precisam de poupança externa para complementar sua pequena poupança doméstica", justifica. Em valor, entretanto, houve crescimento no saldo em conta corrente, que havia somado US$ 11,711 bilhões em 2004. O que explica a queda do superávit como proporção do PIB é a valorização do câmbio em 2005, que fez o PIB medido em dólares se expandir 31,47%, para US$ 793,240 bilhões. Dois itens tiveram grande peso no resultado apurado na conta corrente em 2005. O mais importante deles é o saldo comercial, que chegou a US$ 44,757 bilhões, ante US$ 33,641 bilhões no ano anterior. Mas o forte crescimento de um dos itens do balanço de serviços e rendas, as remessas de lucros e dividendos, consumiu quase metade do acréscimo de divisas gerado pela ampliação do saldo comercial. As remessas se expandiram 72,88%, chegando a US$ 12,686 bilhões. Lopes atribui a expansão das remessas de lucros e dividendos ao aumento da lucratividade das empresas e à apreciação do câmbio, que amplia o estoque de investimentos estrangeiros no país. As remessas foram particularmente elevadas em dezembro, chegando a US$ 2,247 bilhões, superando as expectativas do BC e fazendo com que o saldo em conta corrente do mês se resumisse a US$ 335 milhões, bem abaixo do US$ 1 bilhão esperado pela autoridade monetária. A valorização da taxa de câmbio também trouxe de volta o déficit na conta de turismo internacional (US$ 858 milhões), rompendo um período de dois anos de superávit. O dado positivo é que, mesmo com o real mais forte, o país conseguiu aumentar em 19,83% suas receitas com turistas estrangeiros que visitam o país - o volume chegou ao recorde de US$ 3,861 bilhões. Os gastos de brasileiros no exterior, porém, se expandiram 64,4%, chegando a US$ 4,720 bilhões. O déficit com aluguel de equipamentos se expandiu 90,67% em 2005, chegando a US$ 4,130 bilhões. Dessa forma, tornou-se o item com maior peso individual no balanço de serviços. "Esse tipo de despesa está vinculado aos investimentos diretos", diz Lopes. A despesa com juros da dívida externa manteve-se praticamente estável em 2005, somando US$ 13,496 bilhões, ante US$ 13,364 bilhões no ano anterior. Essa despesa tem-se mantido estável, a despeito da elevação dos juros internacionais em 2005, porque o endividamento brasileiro se encontra em trajetória de queda. As transferências unilaterais chegaram a US$ 3,558 bilhões no ano passado, o valor mais elevado desde 1995. "O crescimento se explica, em parte, pela maior facilidade em fazer essas remessas", diz Lopes. "Parte das remessas que eram feitas por meios informais foi incorporada ao sistema bancário."