Título: Deficientes procuram romper barreiras
Autor: Rodrigo Carro
Fonte: Valor Econômico, 20/01/2006, Valor Especial / EMPRESA & COMUNIDADE, p. F3

Trabalho Associações investem na capacitação e em treinamento para garantir o cumprimento da Lei 8.213

Treinamento profissional em lugar de simples apelos à caridade dos empregadores. Para vencer as dificuldades de inserção dos deficientes no mercado de trabalho, organizações não-governamentais e instituições filantrópicas recorrem, cada vez mais, à capacitação técnica das pessoas com deficiências. Desde a entrada em vigor da Lei 8.213, em 1991, as empresas com mais de cem funcionários são obrigadas a preencher de 2% a 5% dos seus cargos com deficientes. Mas, ao invés de simplesmente lutarem pelo cumprimento da norma, as associações de auxílio aos deficientes investem na criação de cursos, bancos de dados e até pacotes de consultoria gratuitos. Nada menos que 24,6 milhões de brasileiros sofriam de algum tipo de algum tipo de deficiência, de acordo com o Censo demográfico de 2000, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desse total, nove milhões estavam trabalhando na época. "As principais dificuldades para a inserção dos jovens deficientes no mercado de trabalho estão relacionadas com o transporte e a educação. Faltam veículos e escolas adaptadas às necessidades deles", analisa Fernanda Japiassu, superintendente adjunta de desenvolvimento do Instituto Brasileiro de Defesa dos Direitos da Pessoa Portado de Deficiência (IBDD), organização não-governamental sediada no bairro carioca do Catete. Entre os empregadores, o maior obstáculo é a falta de conhecimento sobre o tema. "Muitas empresas ligam para nós desesperadas, por causa das multas que a legislação estabelece para as empresas que não cumprem os percentuais estabelecidos por lei para contratação de deficientes", conta Fernanda. Criado em 1998, o instituto coloca à disposição das empresas interessadas seu banco de dados, com os nomes de cinco mil deficientes aptos a trabalhar. Grande parte desse contingente foi formada nos três cursos próprios oferecidos gratuitamente pelo IBDD: informática básica, telemarketing e auxiliar administrativo. Mas muitos outros tipos de treinamento são desenvolvidos em parceria com empresas privadas: a TV Globo, por exemplo, patrocina três cursos desenvolvidos pelo instituto com ajuda do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). "Pela nossa experiência, sabemos que a área administrativa é a que mais absorve pessoas com deficiência nas empresas", explica Fernanda. Numa tentativa de diminuir a barreira representada pela falta de informações, o IBDD lançou no ano passado um pacote de consultoria gratuita para empresas que desejam contratar deficientes. Em primeiro lugar, é feita uma análise das condições de acessibilidade que a companhia oferece ao portador de deficiência. Se houver obstáculos físicos, são propostas soluções simples. A segunda fase consiste numa palestra para sensibilizar os funcionários, desmontando possíveis preconceitos. Por fim, o instituto encaminha uma planilha com os candidatos aptos a preencher as vagas oferecidas. Fica a cargo do empregador selecionar o candidato mais adequado para um determinado posto de trabalho. "Os deficientes passam pelo mesmo processo seletivo que qualquer outro candidato", explica Marcelo Canelas Leite, diretor de Recursos Humanos do escritório de propriedade industrial Momsen Leonardos &Cia, no Rio de Janeiro. Foi assim - cumprindo todas as etapas do processo - que a curitibana Fabíola Ribas Correia, de 21 anos, conseguiu uma vaga de assistente no Departamento de Marcas do escritório. Vítima de um acidente de trânsito na infância que causou a amputação de sua perna direita, Fabíola teve como trunfo o fato de falar inglês fluentemente, graças a um curso de 11 meses na Inglaterra. Em São Paulo, a Associação para Valorização e Promoção de Excepcionais (Avape) oferece um total de 28 cursos em três áreas: informática, atendimento ao cliente e turismo. "Começamos, há 23 anos, apenas com o atendimento clínico, com médicos, psicólogos, fisioterapeutas e outros profissionais", lembra Maria Cristina Bachiega, responsável pela chefia da Unidade Zona Sul. "Não basta passar o chapéu: quando vamos solicitar recursos levamos sempre um projeto debaixo do braço", ensina. Atualmente, a associação conta 12 unidades, cinco delas voltadas para a reabilitação e a capacitação profissional. (R.C.)