Título: Seguradoras pressionam e obtêm redução no roubo de carros
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Especial, p. A10
O roubo e o furto de carros em São Paulo é um exemplo de como um tipo de delito pode gerar conseqüências econômicas em cadeia, desencadear uma pressão sobre o governo e gerar uma ação focada da Segurança Pública. Ao fazer o balanço dos sinistros no primeiro semestre este ano, empresas seguradoras tomaram um susto: o índice de carros segurados perdidos por esta causa subira 25% comparado ao mesmo período de 2004. No Rio caíram 30%, o que também surpreendeu. Representantes das grandes empresas fizeram chegar ao governo estadual que a situação era alarmante. Pediu-se o aumento do policiamento, sobretudo na Zona Leste da capital e no ABC, onde a proximidade com desmanches agrava o problema. A ação veio rápida. Já no segundo semestre, a partir de outubro, os sinistros de roubos e furtos diminuíram 10%. A estatística de roubos e furtos de automóveis é uma das que contam com menor índice de subnotificação dentro do sistema de segurança pública. Apenas uma minoria da frota é segurada, mas é justamente esta minoria, de carros mais novos e valiosos, o principal alvo das quadrilhas. No balanço geral da Secretaria de Segurança Pública, o aumento de roubos e furtos de carros no primeiro semestre deste ano em comparação com o de 2004 subiu apenas 2,87%. O balanço anual dos quatro primeiros anos do governo Alckmin mostra estabilização, já que a queda do número de roubos foi compensada pelo aumento de furtos entre 2003 e 2004. Para as seguradoras qualquer variação negativa, por mínima que seja, ganha efeito multiplicador e onera o custo de vida das classes média e alta. Roubo e furto representam 65% do valor que se paga pelo seguro de carros em São Paulo e Rio, enquanto nos demais estados essa proporção é para colisão. O aumento do primeiro semestre já foi repassado para os seguros renovados agora, na proporção de 15% a 20%. Para as próximas renovações, é prevista uma queda de pelo menos 5%. Ou seja: a avaliação do risco atinge a todos, inclusive aos que não tiveram um carro furtado. Atento ao peso da questão , o pré-candidato ao governo estadual do PT, o senador Aloizio Mercadante elegeu o tema para um de seus primeiros ataques ao governo tucano. "Estamos com 180 mil veículos roubados por ano. Quase toda a produção de automóveis no país a cada dez anos está sendo roubada a cada dez anos no Estado", afirmou ao jornal "Folha de S.Paulo", em entrevista este mês, provavelmente querendo se referir que quase toda a produção de automóveis nacionais, da ordem de 2,2 milhões, seria roubada por década em São Paulo. O primeiro movimento do secretário de Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho , é afirmar que o problema é superdimensionado. "Cerca de 30% dos boletins de roubo e furto são fraudes contra as seguradoras. Tanto que o índice costuma subir depois de enchentes e outros desastres que danificam os veículos", disse. A informação de que as fraudes são elevadas é confirmada pelo mercado. O secretário afirma que a frota média em circulação no Estado é de 13,7 milhões de carros. O índice de roubos e furtos significaria, portanto, 1,38% do total. "A frota sobe mais do que as ocorrências. Em 2003, eram roubados 1,5% dos carros", disse. O tucano acrescenta que cerca de 85 mil veículos são recuperados pela polícia por ano. "Portanto, o correto é dizer que 0,76 carros para cada cem em circulação são perdidos a cada doze meses ", afirmou. (C.F., colaborou Janes Rocha, de São Paulo)