Título: Terminais de contêiner já vivem "apagão" logístico
Autor: José Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Empresas &, p. B4

A movimentação de contêineres no Brasil cresceu anualmente 18%, em média, nos últimos anos. Acompanhando o crescimento do comércio exterior brasileiro, em 2005 os terminais que operam com cargas desse tipo devem movimentar cerca de 3,7 milhões de TEUs (unidade padrão para contêiner de 20 pés), aumento de 17%. Mas será muito difícil o setor repetir, em 2006, o bom desempenho dos últimos anos. Mesmo que o comércio exterior brasileiro continue em expansão, os terminais enfrentam limitações como o baixo calado dos portos e a falta de espaço e de linhas de acesso rodoferroviárias para receber e escoar as mercadorias. A Associação Brasileira de Terminais de Contêineres de uso Público alerta que o crescimento pode ser estancado já no ano que vem, caso não sejam feitas melhorias urgentes na infra-estrutura portuária. "Os terminais estão fazendo o que podem. Estamos investindo em maquinário e em melhorias operacionais como forma de minimizar as deficiências de infra-estrutura. Mas se não houver investimentos, com certeza haverá entraves ao crescimento não apenas dos terminais, mas de todo o comércio exterior", diz o presidente da Abratec, Sérgio Salomão. "Já vivemos o 'apagão' logístico portuário. Na Europa, os navios esperam apenas 3 horas para entrar no porto e os caminhões esperam 40 minutos para serem carregados. Aqui existem portos onde os navios esperam três dias e os caminhões até 48 horas. Isso mina a competitividade e eleva os custos de maneira absurda", diz o diretor superintendente do Terminal de Contêineres de Paranaguá (TCP), Mauro Mader. Mader diz que em Paranaguá os maiores problemas estão relacionados à falta de dragagem, em alguns berços de atracação a profundidade é de apenas 8 metros, e ao planejamento na localização dos terminais. Ele conta que Paranaguá possui quatro pontos voltados para a exportação de soja que acontece ao lado do terminal de contêineres. Segundo o executivo, essa aproximação afeta as operações dos contêineres. Ele comenta, ainda, que as melhorias viárias feitas recentemente trazem um alívio passageiro e as vias devem voltar a ficar congestionadas em no máximo seis anos. Roberto Giannetti da Fonseca, presidente da Silex Trade, comenta que a espera, em determinadas épocas do ano, é tamanha que os navios partem sem levar em seus porões a carga combinada. Ele disse que há casos de atrasos de até 10 dias. "Os problemas não estão nos terminais. Mas a inexistência de acessos viários. A confusão existente entre as concessionárias ferroviárias atrapalha bastante e gera prejuízos imensos", afirma. Segundo ele, a expectativa criada em torno da agenda portos era de que o governo partisse para uma onda maciça de investimentos na área portuária. Algo que, segundo ele, acabou não acontecendo. O diretor de Programas de Transportes Aquaviários do Ministério dos Transportes, Paulo de Tarso, reconhece a existência de problemas mas diz que ainda não há razão para temer um "apagão" portuário. Ele defende que o governo está investindo na melhoria da infra-estrutura e este ano destinou R$ 630 milhões para o setor. Entre os principais problemas do setor, Salomão destaca o baixo calado portuário e a necessidade de ampliação e melhoria de acessos terrestres, além de um melhor planejamento na localização dos terminais de contêineres para evitar a proximidade com cargas consideradas incompatíveis, como os granéis sólidos, por exemplo. O executivo diz que os onze maiores terminais sob a responsabilidade da iniciativa privada investiram cerca de US$ 615 milhões em equipamentos, melhorias operacionais e construção de retroáreas e espaços de armazenagem desde 1995. "Estamos ampliando a eficiência através de equipamentos e artifícios como aumentar as pilhas de contêineres. O problema é que essas medidas se esgotam rapidamente. É necessário a melhoria urgente da infra-estrutura portuária e isto é uma questão de investimentos governamentais", diz. Os dados da Abratec apontam que os terminais estão operando entre 90% e 100% de sua capacidade, dependendo da época do ano.