Título: Santos projeta crescer até 11% em 2006
Autor: José Rodrigues
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Empresas &, p. B4

Portos Codesp estima movimentar 81 milhões de toneladas de cargas no próximo ano, contra 73 milhões em 2005

O porto de Santos entra em 2006 com a perspectiva de movimentar 81 milhões de toneladas de cargas, quase 11% a mais do que em 2005, ano em que a Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) estima fechar com 73 milhões de toneladas, ou 8% superiores ao ano passado. Se a estimativa estiver correta, o volume de carga praticamente dobrou de 1996 a 2005. O destaque é o avanço, bem acima da média, dos embarques de carga geral. Apenas nos últimos seis anos, enquanto o movimento do porto cresceu o equivalente a 70%, os embarques de carga geral, que acumulam maior valor por unidade, cresceram 166%. Transportada em contêineres, a carga geral, nos números sob análise, reflete o aumento das exportações brasileiras, somadas aos embarques de cabotagem (para outros portos nacionais). Para ampliar ainda mais a cabotagem, a Codesp implanta, a partir de janeiro, uma redução de 50% nos valores de uma de suas principais tarifas, a de infra-estrutura portuária, válida para cargas conteinerizadas ou não. Com essa medida, o porto espera um aumento de 172 mil contêineres, ou mais 10,9% sobre o volume de 2005, com a peculiaridade de abranger também as cargas de transbordo, ou seja, aquelas que são descarregadas de navios de longo curso e se destinam a outros portos brasileiros ou a países do Mercosul. A medida faz parte de uma estratégia da administradora do porto para transformá-lo em porto concentrador de cargas. O único senão da medida, segundo operadores do porto, é o prazo da concessão, de seis meses, dado pela Codesp, com aprovação do Conselho de Autoridade Portuária (CAP), em caráter experimental. Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) identificou que a região de influência do porto de Santos tem um potencial de cargas de cabotagem e de transbordo de R$ 311 bilhões, cerca de 30% do PIB brasileiro. No âmbito da navegação de longo curso, o mesmo estudo chegou ao potencial de US$ 50 bilhões de cargas que utilizam outros modais de transporte, que podem ir para o marítimo, dos quais US$ 35 bilhões com uso do porto de Santos. Na opinião do economista Fabrízio Pierdomenico, diretor comercial da Codesp, a consecução desses objetivos não depende apenas da estatal portuária. "É imprescindível que ocorra a união de esforços de todos os envolvidos na prestação de serviços para angariar, de fato, esses contêineres e daqui redistribuí-los para outros pontos". Com o desempenho de 2005, a estatal estima encerrar o ano com um superávit da ordem de R$ 24,1 milhões, cerca de 49% inferior ao de 2004, em razão do aumento das despesas em 12,9% e da receita faturada em 6,4%. O diretor financeiro da Codesp, Mauro Marques, explica que o aumento das despesas é reflexo da aplicação de R$ 28,8 milhões na dragagem e monitoramento dos despejos, "valores não despendidos em 2004 e que indicam a retomada da manutenção da infra-estrutura aquaviária". O resultado superavitário, mesmo assim, não significa um balanço final da empresa no azul. Demandas trabalhistas, pagamentos de atrasados a organismos públicos e parte da receita apenas faturada e não realizada, em razão de conflitos judiciais com devedores, fazem com que a Codesp enfrente um passivo de quase R$ 700 milhões de difícil equacionamento. O outro lado da moeda, para a empresa, é desafiante. Quanto maior o volume de cargas que o porto atraia, mais se agudiza o congestionamento de seu entorno e cresce a necessidade de maior profundidade do canal do estuário. O setor privado, que corre em outro ritmo, investiu em 2005 cerca de R$ 135 milhões em melhoria, substitução de equipamentos e aumento de áreas operacionais. Enquanto isso, a dragagem do porto está desde 2002 com uma sequência de interrupções comprometedoras para as operações. Um dos últimos capítulos dessa novela deve rodar nesta semana, com a retomada da dragagem de manutenção, após a Codesp ter obtido a suspensão de liminar envolvendo a contratação de empresa para monitorar os despejos da dragagem em alto-mar. Enquanto isso, a administradora do porto prepara-se para as licitações que darão curso à dragagem de aprofundamento do canal do estuário, cuja meta final é a de chegar a 17 metros, em três etapas. "Com 15 metros já poderemos receber navios graneleiros de até 110 mil toneladas e conteineiros de até oito mil TEUs (sigla em inglês para contêiner de 20 pés). Significa que poderá haver uma redução de até US$ 2 por tonelada no frete entre Santos e portos europeus", assinala o engenheiro Arnaldo Barreto, de infra-estrutura e serviços da Codesp. As perimetrais, outro gargalo do porto, localizadas nas margens esquerda e direita do porto, com 12 quilômetros de extensão, estão com os procedimentos ambientais no Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), em paralelo com os preparativos para divulgação do processo licitatório para contratação do projeto executivo e respectivas obras.