Título: Copom sobe juros para 17,25%
Autor: Alex Ribeiro, Cristiane Perini Lucchesi e Altamiro
Fonte: Valor Econômico, 18/11/2004, Finanças, p. C-1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem, por unanimidade, elevar os juros básicos da economia em 0,5 ponto percentual, de 16,75% para 17,25% ao ano. O aperto na política monetária ficou dentro do esperado pelos analistas do mercado financeiro. A nota divulgada logo após a reunião, com apenas 31 palavras, não ajuda muito a esclarecer quais devem ser os próximos movimentos do BC. Diz o comunicado: "Dando prosseguimento ao processo de ajuste da taxa de juro básica iniciado na reunião de setembro, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa Selic para 17,25% ao ano, sem viés". Com essa decisão, chega a 1,25 ponto percentual o aumento acumulado na taxa de juros de setembro a novembro. O comunicado divulgado após a reunião é praticamente igual ao da reunião de setembro. A diferença é que o Copom suprimiu neste mês a palavra "moderado", que até setembro qualificava o processo de ajuste dos juros. O Copom deixa ainda claro que está dando continuidade ao ajuste nos juros - o que sugere que novas alta virão. Mas o significado preciso do comunicado do Copom só deverá ser conhecido na semana que vem, quando for divulgada a ata da reunião. Caso esse aperto se mantenha por 12 meses, a nova alta na taxa básica eleva em cerca de R$ 2 bilhões os gastos do Tesouro com juros da dívida em títulos vinculados à taxa Selic. Cada alta de um ponto percentual na taxa de juros básica provoca uma elevação de 0,25 ponto percentual na relação entre a dívida líquida e o PIB - que em setembro estava em 53,7% do PIB.

Na últimas atas, o Copom vem expressando preocupação com quatro fatores de risco ao cumprimento das metas de inflação: 1) crescimento da demanda possivelmente acima do que pode ser atendido pela demanda; 2) as altas cotações do petróleo no mercado internacional; 3) a deterioração das expectativas de inflação do mercado; 4) e a alta dos preços do atacado, que poderá ser repassada ao varejo. "Seria de surpreender se o BC voltasse a surpreender o mercado desta vez", afirmou o economista-chefe do Bradesco, Octavio de Barros. Na última reunião, o mercado esperava alta de 0,25 ponto percentual nos juros, mas o Copom decidiu pelo aumento de 0,5 ponto. Para Octavio de Barros, a grande dúvida é qual será o nível máximo que os juros básicos terão de atingir para depois ficarem estáveis, antes de iniciar um movimento de queda. Na sua visão, esse nível não está muito distante dos 17,5% ao ano, dada a forte queda na taxa de câmbio. "O câmbio mais baixo influi sobre as expectativas de inflação e permite ao BC tornar a política monetária menos apertada", avalia ele. Renata Heinemann, economista do Banco Pátria, discorda. Para ela, os juros vão continuar a subir para mais de 18% ao ano, para depois ficarem altos por um bom período de tempo. Ela acredita em aumento de 0,5 ponto percentual em dezembro e mais 0,5 ponto em janeiro. "A valorização cambial não teve impacto sobre a inflação" , considera. Ela considera que as pressões inflacionárias continuam a existir e que o possível aumento de combustíveis ainda preocupa. "A deflação nos preços dos alimentos tem tudo para se reverter", diz. Além disso, Renata acredita que o aumento nos preços das commodities metálicas verificado recentemente pode chegar ao consumidor. "O BC precisa agir com pulso firme", diz. Alberto de Oliveira, gerente de tesouraria do Banif Primus, considerou "ótimo" que a decisão do BC veio dentro do esperado. "Só achei estranho eles demorarem tanto para tomar a decisão", afirmou - a reunião acabou após as 20h. Oliveira disse que a diferença entre a expectativa de inflação do mercado, de 5,9% para 2005, e a meta do BC, de 5,1%, explica em parte o aumento. Ele acredita em mais uma alta de 0,5 ponto percentual em dezembro. "Depois, tudo vai depender dos preços do petróleo", afirmou. Na avaliação de Alexandre Santana, economista da gestora ARX Capital Management, alguns fatores mudaram desde a última reunião do Copom. Ele destaca principalmente a queda no dólar e as cotações do petróleo (que caíram de cerca de US$ 54 para US$ 46). Já a expectativa de inflação teve pequena piora no mesmo período. O IPCA, índice de inflação oficial, também mostrou alta, sobretudo quando se considera o núcleo por exclusão dos produtos "in natura", que bateu em alta de 0,56%. "No final das contas, a decisão acabou sendo acertada", disse. Já a atividade econômica está mais em linha com as previsões do BC , que previa uma recuperação dos setores mais sensíveis à renda. Santana não acredita num afrouxamento da política monetária em dezembro. Para ele, isso só vai acontecer se a queda do dólar for persistente e influenciar as expectativas de inflação para 2005, o que, segundo ele, ainda não está acontecendo. Já Alexandre Maia, economista da GAP Asset Management, está mais otimista. Ele acredita que a manutenção da queda do dólar aumenta a possibilidade de uma alta menor dos juros no mês que vem. "Se a queda for sustentável e tiver efeito na inflação futura, o juro deve subir menos em dezembro", diz. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) avalia que as sucessivas altas da taxa básica de juros do país compromete a recuperação da demanda interna e o crescimento econômico futuro. Em nota à imprensa, Armando Monteiro Neto, presidente da instituição, afirma que não vê pressão inflacionária por excesso de demanda. "A recuperação da demanda doméstica é importante para solidificar a confiança e alavancar o investimento produtivo", afirma. Já o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, considerou a alta dos juros "extremamente desastrosa".