Título: Fundo para financiar infra-estrutura já conta com capital de R$ 600 milhões
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Brasil, p. A2

Os investimentos em infra-estrutura vão ganhar uma nova fonte de financiamento, com estrutura inédita, a partir de fevereiro. Com capital já assegurado de pelo menos R$ 600 milhões, mas podendo chegar a R$ 1,5 bilhão, o fundo de participações Infra-Brasil está a um passo de finalmente sair do papel. Negociado exaustivamente entre fundos de pensão e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), desde novembro de 2004, ele preencherá uma importante lacuna nos grandes projetos de infra-estrutura: a ausência de alternativas viáveis de financiamento privado, complementares aos recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para essas obras. Em uma das últimas etapas para tornar viável a sua implantação, o conselho deliberativo da Funcef, fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, vota hoje o aporte de R$ 225 milhões da instituição no Infra-Brasil. Na quinta-feira, a diretoria da Previ, dos funcionários do Banco do Brasil, analisa o assunto. A Petros (da Petrobras) já autorizou o aporte de mais R$ 225 milhões. Vinte por cento do total de recursos disponíveis no novo fundo irá diretamente para investimentos, com o Infra-Brasil entrando no capital acionário das sociedades de propósito específico criadas para tocar projetos de rodovias, ferrovias, portos e usinas hidrelétricas. Outros 80% serão colocados à disposição das empresas controladoras dos projetos, na forma de debêntures conversíveis em ações, com 15 anos de prazo para pagamento, suprindo o vazio do mercado para financiar com dinheiro privado obras de infra-estrutura. Entre os projetos nos quais o fundo está interessado em entrar como acionista, o diretor-presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, identifica várias oportunidades: o leilão de oito lotes de rodovias federais (incluindo a Fernão Dias e a Régis Bittencourt), em abril; o complexo hidrelétrico do Rio Madeira, que deverá gerar mais de 6 mil megawatts (equivalente a meia usina de Itaipu), em maio; a linha 4 do metrô de São Paulo (em licitação); novos terminais portuários em Santos e Itajaí (SC); e projetos de gasodutos da Petrobras, até 2010. Além da Funcef, que liderou a criação do Infra-Brasil, e da Petros, também a Banesprev (do Banespa) acertou a sua participação no fundo, com R$ 25 milhões. A Valia (da Vale do Rio Doce) estuda fazer um aporte de até R$ 80 milhões. A Previ não definiu valores. "Precisamos dar a partida e já temos R$ 600 milhões assegurados, mas talvez possamos lançar o Infra-Brasil com R$ 900 milhões", comenta Lacerda. "Vamos buscar ainda a participação de fundos de pensão holandeses e americanos." A gestão ficará a cargo do ABN-Amro. O banco decidiu colocar R$ 30 milhões no fundo. A expectativa é que os cotistas tenham rentabilidade de 13,5% ao ano, mais IGP-M. "Será uma linha complementar de financiamento, principalmente para aqueles que tenham dificuldades em relação às garantias apresentadas", acrescenta o diretor da Funcef. Para dar credenciais internacionais ao fundo, segurança aos futuros sócios nos empreendimentos de infra-estrutura e em um gesto de confiança no Brasil, segundo Lacerda, foi negociado com o BID a entrada do organismo financeiro no Infra-Brasil. A diretoria da entidade, após mais de um ano de negociações, aprovou um empréstimo de US$ 75 milhões para a constituição do fundo. Trata-se de uma participação inédita do BID em fundos de investimentos. De acordo com fontes que participaram das discussões em Washington, a intenção da instituição multilateral é fazer um teste desse modelo para, em caso de sucesso, "exportá-lo" a outros países em desenvolvimento com recursos escassos para financiar investimentos em obras de infra-estrutura. Por questões legais, o BID não entrará como cotista e acabou acertando a sua participação por meio de um empréstimo. As condições são consideradas vantajosas: juros escalonados de Libor mais 2,5% ao ano nos quatro primeiros anos do empréstimo, Libor mais 3% ao ano do quinto ao oitavo ano, subindo para Libor mais 3,5% ao ano daí em diante.