Título: Brasil pode retomar ofensiva por cúpula presidencial
Autor: Assis Moreira
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Brasil, p. A2

Se a reunião de cerca de 30 ministros na sexta-feira e sábado em Davos (Alpes Suíços) não sinalizar avanço para liberalizar o comércio mundial, o Brasil só vê uma saída: reativar a proposta de um encontro entre os chefes de governos dos principais países para decisões políticas sobre a Rodada Doha. Em Genebra, diferentes interlocutores consideram esse encontro de cúpula necessário, diante da distância nas posições dos principais países. Mas apontam dificuldades para sua realização. Primeiro, o G-8, que reúne os principais países industrializados, é presidido este ano pela Rússia, que não é membro da Organização Mundial do Comércio (OMC) e portanto não participa da Rodada Doha. Segundo, negociação comercial é tarefa da Comissão Européia e não de seus Estados membros. Além disso, os Estados Unidos não confirmam a participação do presidente George W. Bush. O fato é que a União Européia, pressionada a fazer concessões em agricultura, limita-se a contra-atacar. O comissário de Comércio, Peter Mandelson, voltou a acusar o Brasil e Índia de não estarem prontos para dar contrapartida em produtos industriais e serviços. "O Brasil está pronto e disposto a negociação séria em todas as áreas", reagiu o diretor do Departamento Econômico do Itamaraty, conselheiro Roberto Azevedo. Ao mesmo tempo em que as negociações não prosperam, o secretariado da OMC acompanha atentamente o eixo Venezuela-Cuba-Bolívia, no rastro da eleição do líder sindical Evo Morales para a presidência da Bolívia. A questão é até que ponto esses países estão comprometidos com a Rodada Doha. Venezuela e Cuba tentaram bloquear os resultados da conferencia ministerial de Hong Kong, reclamando de problemas na negociação de serviços. Foi preciso que o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro de comércio da China, Bo Xilai, telefonassem ao presidente venezuelano Hugo Chavez pedindo para evitar um fiasco geral em Hong Kong. É nesse ambiente que Pascal Lamy começará sua primeira viagem a América do Sul como diretor da OMC, domingo. Ele escolheu o Chile para iniciar sua visita. Depois vai ao Peru e provavelmente à Argentina. Lamy foi diversas vezes ao Brasil como comissário da UE e como candidato ao posto da OMC.