Título: Pressionado por Lula, partido define se fará prévia
Autor: Thiago Vitale Jayme e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Política, p. A6

Sob o impacto da decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de só anunciar em junho se disputará a reeleição, o PMDB decide amanhã a data da prévia em que será escolhido o pré-candidato à Presidência da República . As duas datas mais prováveis são 5 e 19 de março. O presidente do Senado, Renan Calheiros, e o senador José Sarney (AP), da ala governista do partido, tentarão convencer o PMDB a adiar a prévia, durante reunião na residência do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. Os governadores do PMDB decidiram apoiar a pré-candidatura do colega Germano Rigotto. O adiamento da prévia pode inviabilizar as pré-candidaturas de Rigotto e de Anthony Garotinho. Parlamentares do PMDB não acreditam que Rigotto deixe o governo do Rio Grande do Sul sem a certeza da candidatura própria. O prazo para a desincompatibilização é 31 de março. A estratégia de Lula, anunciada em jantar com senadores pemedebistas na quinta-feira, embola ainda mais o cenário no partido. É clara a intenção de Lula de estender o prazo da definição da candidatura apostando numa retomada da popularidade, o que facilitaria a aliança com o PMDB. "Não definirei a candidatura até junho. Reguei árvores. Agora, os frutos estão maduros. Se eu não os pegar, vão dizer que não estou governando. Se eu pegar, dirão que estou fazendo campanha. Mas eu vou colher cada fruto que plantei", disse Lula. Os primeiros sinais positivos já foram colhidos, com uma ainda incipiente recuperação na última pesquisa do Ibope, em que Lula aparece à frente do mais forte candidato tucano, o prefeito de São Paulo, José Serra. Para o presidente, o governo errou muito na comunicação interna e externa. Ele disse aos parlamentares que intensificará a propaganda institucional do governo em todos os Estados. Os rumos no PMDB podem mudar com os resultados da publicidade das ações de governo. Os parlamentares aliados declararam-se surpresos ao tomar conhecimento dos números da economia e dos programas sociais. Lula decidiu comparar todas as ações de seu governo com as de Fernando Henrique Cardoso. Alega que a sua administração supera a do tucano em todos os quesitos. Anfitrião do jantar com Lula, o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), afirma que "o quadro da candidatura própria se cristaliza cada vez mais no PMDB", mas admite que na medida em que forem feitas as análises nos Estados, o quadro pode mudar. Suassuna se refere sobretudo ao impacto das ações federais em cada Estado. Lula disse aos senadores, por exemplo, que o número de estudantes universitários no país saltou de 2 milhões para 5 milhões.