Título: Disputa entre Serra e Alckmin pode dificultar escolha do líder na Câmara
Autor: Thiago Vitale Jayme e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Política, p. A6

O racha dentro do PSDB para a escolha do candidato que disputará com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a corrida pelo Palácio do Planalto pode contaminar as disputas internas do partido. Prestes a escolher seu novo líder, a bancada tucana na Câmara vê os dois principais postulantes ao cargo trazerem o embate entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito paulistano, José Serra, para o centro das discussões. Uma tropa-de-choque tem trabalhado na Câmara para evitar a todo custo a contaminação e o possível acirramento da disputa. Até agora, os dois candidatos a líder são os baianos Jutahy Júnior e João Almeida. A eleição está marcada para o dia 15 de fevereiro. O problema, segundo alguns tucanos da Câmara, é a predileção aberta e notória de Jutahy por Serra. Ressabiados com o posicionamento incisivo do possível líder da bancada, os deputados mais simpáticos a Alckmin têm visto João Almeida como o "anti-Serra". "De fato, essa posição do Jutahy atrapalha. Ele é conhecido como homem do Serra. Se virar líder, sabemos que ficará 24 horas preso à candidatura do prefeito", opina a deputada Zulaiê Cobra (SP). Ela defende uma liderança isenta. "Não pode sair ninguém ligado a alguém. Creio que o melhor seria o Jutahy repensar a idéia de ser líder", completou. Jutahy não demonstra qualquer preocupação com sua opção eleitoral. Reforça a candidatura à liderança e não esconde sua predileção pelo prefeito de São Paulo. "Eu sou Serra, todo mundo sabe disso. Agora, a bancada terá maturidade suficiente para escolher seu novo líder sem deixar que a disputa para o Planalto contamine nossas relações", declarou o baiano. O ex-presidente do diretório regional de São Paulo e deputado Antonio Carlos Pannunzio (SP) faz parte do grupo contrário à contaminação do embate Alckmin-Serra na disputa da liderança. "O meu esforço é para que a bancada não se contamine nesse embate na questão da liderança", afirmou Pannunzio. O parlamentar tem a mesma opinião de Zulaiê. "É preciso que a liderança tenha muita isenção nesse momento", afirmou. O mineiro Rafael Guerra tem participado das conversas com Pannunzio. "O debate sobre Serra e Alckmin não pode dominar as discussões internas para a liderança", afirmou. Não é só a preferência por Serra que pode dificultar a pretensão de Jutahy de se tornar líder. Segundo alguns parlamentares, há um acordo oficial firmado pelos parlamentares tucanos de não repetir o mesmo deputado para ocupar a liderança. O acerto foi feito no início dessa legislatura e Jutahy já foi líder, em 2003. "Combinamos um rodízio. Seria a quebra do acordo. A bancada tem outros nomes viáveis e de muita qualidade", reclama um influente tucano. Outro deputado reclama da disputa entre Jutahy e João Almeida. "Só temos dois deputados baianos e eles brigam pela liderança? Essa demonstração de falta de unidade não é boa para o PSDB", afirmou. Ex-líder da bancada na Câmara, o mineiro Custódio Mattos sabe como influências externas podem pesar na disputa caseira. Quando pleiteou a liderança pela primeira vez, em meados de 2003, Custódio trazia à sua sombra a forte influência do governador de Minas, Aécio Neves. Recém-eleito governador, Aécio via na disputa interna da Câmara uma chance de polarizar com o então candidato derrotado à presidência, José Serra. O candidato serrista, naquela época, como agora, era Jutahy. O tucano baiano levou a melhor. "Mas depois daquilo, nós saímos muito mais próximos. Tanto que o Custódio me sucedeu", confirmou Jutahy. Custódio Mattos reconhece essa boa relação, mas teme que pressões externas contaminem os ânimos na bancada. "Não acho que o João Almeida seja partidário de Alckmin. Ele foi escolhido pelo Serra para ser tesoureiro do PSDB. A relação entre ambos é ótima". Custódio alerta, no entanto, que deputados que apóiam Alckmin ameaçam alavancar a candidatura de João Almeida, como uma forma de polarizar com a escolha nacional. "Eu já me coloquei à disposição da direção do PSDB para impedir que essa disputa fratricida ocorra. Seria péssimo para nós", justificou. O senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) não quer intrometer-se na disputa da Câmara, mas defende que a polarização Serra-Alckmin seja resolvida o mais rápido possível, para não contaminar as demais instâncias partidárias. Segundo Guerra, 90% dos tucanos defendem a unidade da legenda, o que torna injusto o desejo de 10% de tumultuarem a harmonia interna das bancadas, tanto na Câmara, quanto no Senado. "Não há razões para polêmicas. Quando percebemos que isso poderia atrapalhar o clima aqui no Senado, imediatamente decidimos não debater externamente a questão, para evitar atritos maiores", afirmou Guerra.