Título: Cavaco Silva tira esquerda do poder em Portugal
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Internacional, p. A8

Aníbal Antônio Cavaco Silva, de centro-direita, confirmou o favoritismo e foi eleito presidente de Portugal no primeiro turno do pleito, realizado ontem. Ex-primeiro ministro de 1985 a 1995, Cavaco Silva amealhou 50,6% dos votos válidos, segundo resultado da apuração oficial. Aos 66 anos e apoiado pelo Partido Social Democrata (PSD) e pelo Partido Popular (CDS/PP), Cavaco Silva impôs à dividida esquerda portuguesa sua mais dolorosa derrota desde a redemocratização do país, em 1974. De quebra, recuperou-se da derrota que sofreu para o socialista Jorge Sampaio - que agora deixará o cargo, após dois mandatos - ao concorrer à Presidência em 1996. Desde 1985 todas as disputas haviam sido vencidas pelo Partido Socialista (PS), que viu seu emblemático candidato Mário Soares, ex-presidente de 81 anos, terminar a corrida em terceiro, com 14,3% dos votos válidos. Manuel Alegre, socialista que concorreu como independente, ficou em segundo, com 20,7%, a um passo de obrigar à realização de um segundo turno. Cerca de 6 milhões de eleitores votaram e as abstenções ficaram abaixo de 40%, patamar inferior ao da última disputa. Para a esquerda, resta o consolo de ter obtido, no ano passado, sua maior vitória em eleições parlamentares também desde a redemocratização portuguesa. São muitos os desafios do novo presidente do país mais pobre da Europa Ocidental nos próximos cinco anos, principalmente na seara econômica, onde há estagnação, o desemprego atingiu quase 8% - maior nível em 18 anos - e o déficit orçamentário é da ordem de 6% do PIB, duas vezes superior ao permitido na zona do euro. Não por acaso sua campanha lembrava a todo o momento a onda de investimentos em Portugal no início da década de 1990, quando o país ingressava na União Européia e Cavaco Silva era premiê. No país, o presidente tem poderes limitados, mas tem autonomia para vetar leis e dissolver o Parlamento. Já o primeiro ministro - cargo ocupado pelo socialista José Sócrates - é responsável pelas ações de governo. Apesar de ter apresentado um plano de ação considerado frágil e das limitações do posto, o discurso do professor de Economia Cavaco Silva foi bem sucedido. Durante a campanha, pregou reformas trabalhistas e enfrentou os sindicatos com propostas de baixar pensões e de aumentar a idade para aposentadoria. (Com agências noticiosas)