Título: Presidente resgata símbolo
Autor: Rodrigo Uchôa
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Internacional, p. A9

O "jeito Evo de ser" vem fazendo moda na Bolívia. A chompa, o suéter tradicional que o presidente usa constantemente e chamou a atenção em seu giro pelo mundo, virou objeto de desejo de bolivianos e turistas. A empresa Punto Blanco fez, às pressas, quase mil blusas como a de Morales. Vendeu mais do que pãozinho quente. Raul Valda, dono da Punto Blanco, planeja agora exportar, fabricando uma versão com fibras sintéticas que poderiam chegar ao mercado por módicos US$ 8. Mesmo que Evo tenha lançado moda sem querer, o uso de peças tradicionais vai marcando seu início de mandato e deve fazer com que esses símbolos ganhem popularidade internacional. Na "posse andina" promovida por ele em Tiwanaku, sítio arqueológico a 70 km de La Paz, Morales participou de uma cerimônia aimará (seu grupo indígena) trajando elementos ritualísticos que datam de antes da chegada dos espanhóis. Ontem, o presidente teve sua "posse tradicional", usando terno com detalhes em couro de lhama e camisa branca. Recebeu uma medalha de ouro que pertenceu a Bolívar, símbolo ligado à tradição européia dos "criollos" (elite branca de origem espanhola que fez as independências continentais no primeiro quarto do século XIX). Seu vice, Álvaro Garcia Linera, usava gravata. Evo, não. A apropriação de símbolos, tanto indígenas como do "Estado branco", "é importante para que ele consiga se marcar no imaginário de todos como um mandatário fortemente ligado às aspirações populares", diz Miguel Garcia, cientista político que acompanhou Ollanta Humala - candidato favorito à Presidência do Peru - na cerimônia em Tiwanaku. Para Garcia, a posse de deputados e senadores também pode ser vista como parte do "resgate das tradições dos indígenas". Os congressistas do MAS, partido de Evo, se recusaram a fazer o sinal da cruz, erguendo o punho esquerdo para o juramento, mostrando um novo "orgulho indígena". Evo repetiu o gesto ontem.(RU)