Título: Arcelor Brasil traça estratégica para dobrar a produção
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Empresas &, p. B6

Siderurgia Companhia vai investir pesado para crescer nos mercados dominados por Gerdau, Usiminas e CSN

Este restante de janeiro e o próximo mês é um período chave para o comando da Arcelor Brasil, a mais recente gigante industrial criada no país, e para a sua casa matriz, postada no número 19 da Avenue de la Liberté, em Luxemburgo. Executivos daqui e de lá passam o último pente fino nos números de um dos projetos que será o pontapé de um plano ambicioso, mas estratégico para fincar uma posição de destaque no mercado brasileiro e no de outros países da América Latina. Quarta maior gigante industrial em valor de mercado na Bovespa, atrás de Petrobras, Vale do Rio Doce e AmBev, a Arcelor Brasil pretende mais que duplicar sua produção, hoje na casa de 9 milhões de toneladas por ano, entre 2010 e 2012. Algumas variáveis importantes estão em análise neste momento, explica o mineiro José Armando de Figueiredo Campos, de 57 anos, que assumiu o remo da Arcelor Brasil desde sua criação, em meados do ano passado. Ele disse ao Valor, pouco antes de embarcar para a Europa, que a decisão final passa por questões como o futuro da taxa de juros, do câmbio, da oferta de energia no país e o comportamento da demanda de aço nos mercados interno e mundial. O investimento mais adiantado no portfólio da empresa é o de dobrar o tamanho de uma fábrica de aços longos em Monlevade (MG). Essa instalação, ativo da antiga Belgo-Mineira, faz hoje 1,2 milhão de toneladas por ano. O executivo evita falar no valor a ser gasto na obra - várias centenas de milhões de dólares. "Um dos fatores para viabilizar o projeto é conseguir baixar seu custo de construção", afirmou. Para isso, a empresa busca cotações de preços para os equipamentos, como alto-forno e aciaria, em várias partes do mundo. Inclusive dos temidos fabricantes chineses. Com controle de 66% do capital nas mãos do grupo Arcelor, a subsidiária brasileira estreou na Bovespa em 23 de dezembro com valor de mercado superior a R$ 17 bilhões. É resultante da incorporação da Belgo-Mineira, dona de usinas em Minas, São Paulo, Espírito Santo e Argentina, da Siderúrgica de Tubarão (CST), de Serra (ES), e da laminadora Vega do Sul, em Santa Catarina. A perspectiva de seu faturamento neste ano é de R$ 13 bilhões a R$ 14 bilhões. A Arcelor Brasil não surgiu para ser uma competidora complacente, avaliam especialistas do setor e reconhecem executivos de suas concorrentes Gerdau, Usiminas e CSN. "É um grupo muito forte", admite Jorge Gerdau, presidente do grupo gaúcho, que é líder no país no segmento de aços longos com 15 pontos percentuais de mercado à frente dos 30% da Arcelor. Na Argentina, o jogo se inverte: a Arcelor tem 60%; Gerdau, 20%. A disputa se estenderá do Uruguai ao México. Na seara de Usiminas e CSN, a Arcelor Brasil mira os atrativos mercados automotivo, de linha branca e da construção com chapas planas de aço produzidas pela CST e por Vega do Sul. Mas terá de suar para roubar fatias das duas rivais, uma vez que elas dominam esses mercados há várias décadas. "Criamos uma estratégia regional que vai além das fronteira do Brasil, que se alinha à linha do grupo Arcelor", diz Campos. A idéia foi fazer do Brasil uma plataforma de expansão na América Latina. Depois de Argentina, um primeiro passo, ainda tímido, foi dado na Costa Rica, com a aquisição de uma laminadora de 400 mil toneladas e de uma trefiladora de arames pouco antes do fim de 2005. O grupo Arcelor tem motivos de sobra para apostar pesado na Arcelor Brasil. São mais de US$ 4 bilhões em curso desde meados de 2004, dos quais metade já gastos na expansão da CST, na construção de uma coqueria e termelétrica e na aquisição de ações de outros acionistas na própria CST. A controlada brasileira, no balanço de nove meses de 2005 do grupo, respondeu por um terço de todo o resultado operacional (? 4,5 bilhões) e por 34,2% do lucro líquido (? 2,59 bilhões), enquanto as vendas, em volume, representaram 20% e a receita líquida, 15%. Segundo Campos, a Arcelor Brasil reúne muitas condições de competitividade: está próxima de fontes de matéria-prima, como o minério de ferro, do grande mercado nacional e dispõe de infra-estrutura para exportação, além do acesso a capital. "Nossos papéis ganharam expressiva liquidez." O plano de médio e longo prazo da Arcelor Brasil, a começar pela fábrica de Monlevade, contempla investimentos vultosos. Em valores atualizados, somariam cerca de US$ 2,5 bilhões. O plano 2006-2012, em linhas gerais, prevê que a capacidade de produzir aços longos nas usinas de Monlevade, Juiz de Fora, Piracicaba (SP) e Vitória (ES) saltará de 3,7 milhões para 6,3 milhões de toneladas. A Acindar, da Argentina, com expansão já em curso, irá de 1,4 milhão para 1,7 milhão de toneladas. Com ganhos marginais (otimização de capacidades dos atuais ativos) e com aquisições previstas, esse segmento pode atingir 10 milhões de toneladas. No negócio de aços planos, a estratégia vai na mesma linha - com a ampliação da CST, que fica pronta no segundo semestre deste ano, a empresa fica apta a tirar por ano de seus altos fornos e aciarias 7,8 milhões de toneladas de aço. Com investimentos adicionais na usina, a CST vai a 9 milhões, ou até 10 milhões de toneladas, facilmente e sem muito desembolso, diz Campos. Mas ele ressalva: "São planos que vão depender de muitos fatores, principalmente de mercado." A companhia está atenta à onda de consolidação do setor no mundo. Campos afirma que há oportunidades abertas na América Latina, inclusive no Brasil. "A Arcelor, garanto, continua consolidadora."