Título: Caixa defende a política de créditos direcionados
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, Finanças, p. C8

Polêmica Para Jorge Mattoso, mercado não supriria a função social

O presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Jorge Mattoso, criticou a proposta apresentada pelo diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo de Rato, de eliminar o crédito direcionado da economia. "É um equívoco, talvez por desconhecerem a dinâmica economias em desenvolvimento, talvez por tomarem seu exemplo como como modelo a ser seguido por todo e qualquer país", afirma Mattoso, em entrevista ao Valor. Há duas semanas, na cerimônia que marcou o pagamento antecipado ao FMI, Rato defendeu o fim de direcionamentos, como o para habitação, o rural e programas gerenciados pelo Banco de Desenvolvimento econômico e Social (BNDES). Segundo Rato, esse modelo cria ineficiências na alocação de recursos e provoca um aumento das taxas de juros bancárias de forma geral. Mattoso defende, em primeiro lugar, a tese de que o sistema exerce uma função que não seria suprida simplesmente pelo mercado. "O crédito direcionado tem papel significativo para assegurar que a população de menor renda tenha acesso à habitação, e que empresas nacionais tenham crédito com juros menores." O presidente da Caixa discorda também que o crédito direcionado leve a um aumento de "spreads" bancários, encarecendo os empréstimos de forma geral. Segundo ele, a maioria absoluta dos empréstimos é feita por meio de bancos públicos, como o BNDES, a Caixa e o Banco do Brasil. Portanto, o sistema de direcionamento não poderia ser responsabilizado pelos altos juros vigentes no sistema financeiro como um todo. Como ilustração, Mattoso cita o caso do direcionamento de crédito à habitação com recursos da caderneta de poupança. "Até recentemente, os bancos privados praticamente não se participavam do financiamento à habitação, e nem por isso as taxas de juros bancárias eram menores", afirma o presidente da Caixa. "Foi a partir da reinserção dos bancos privados no crédito habitacional, em 2003, que aumentaram os juros? É claro que não." Integrantes da equipe econômica têm levantado o tema da revisão do sistema de crédito direcionado na economia. Mattoso, porém, diz que o assunto não está posto no governo. "Acredito que não houve essa discussão dentro do governo, porque senão teriam chamado (ao debate) o presidente do BNDES e da Caixa, que são duas das instituições que mais se utilizam do crédito direcionado." Mattoso também defendeu a importância da manutenção da Caixa como banco público. Ele diz que, 145 anos após a sua fundação por D. Pedro II, mais do que nunca a Caixa tem um papel a desempenhar. "Nesses 145 anos a Caixa foi assumindo tarefas que não estavam previstas na sua fundação", disse. "Gere as loterias, faz os pagamentos de programas sociais, tem papel extraordinário na habitação e saneamento e, mais recentemente, participa de maneira ativa no projeto de inclusão bancária." A Caixa, argumenta Mattoso, fez a inclusão bancária de 4 milhões de pessoas que estavam completamente à margem do sistema financeiro.