Título: Previdência privada rouba recursos das demais carteiras
Autor: Danilo Fariello e Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2006, EU &, p. D1

O desenvolvimento da previdência privada, que ganhou força ao longo dos últimos cinco anos, fez com que muitos investidores transferissem recursos dos fundos regulares para carteiras voltadas à aposentadoria do tipo PGBL, VGBL e Fapi. A análise do site Fortuna, que leva em conta esses planos de previdência, indica que, nesse período, a captação líquida do segmento foi de R$ 32 bilhões, enquanto os demais tipos de fundos perderam R$ 20 bilhões nessa mesma conta. Entre 2001 e 2002, os planos de previdência praticamente dobraram de tamanho, impulsionados por novos aportes. Nos últimos dois anos, entretanto, esse crescimento no volume de recursos captados caiu, mas em 2005 as contribuições no segmento ainda avançaram, proporcionalmente, dez vezes mais do que os depósitos dos fundos em geral. A arrancada na captação da previdência privada em relação ao seu patrimônio justifica-se principalmente por se tratar de um mercado recente, que começou a se formar em 1998 e suas regras evoluíram bastante ao longo dos anos. Novidades trazidas como benefícios tributários - ampliados no ano passado com a criação da tabela regressiva, que pode reduzir o imposto para 10% independente do valor aplicado - e possibilidade de aquisição de renda mensal no futuro encantaram investidores que visam retorno em prazos mais longos. Maria Cecilia Rossi, sócia da Inter-link Consultoria de Mercado de Capitais e ex-diretora da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) acredita que a previdência privada roubou recursos dos demais fundos. São produtos mais adequados a muitos que antes ficavam em fundos regulares por falta de opção melhor. A tributação na previdência beneficia o investimento de longo prazo. "A possibilidade de abatimento do imposto de renda também é uma vantagem que atraiu muitos investidores", diz Maria Cecilia. Além disso, ela diz que, no período, houve maior esforço dos bancos e seguradoras em treinar pessoas para distribuir produtos de previdência do que normalmente ocorre com os fundos de investimento. O diretor-executivo do Bradesco, Sérgio de Oliveira, afirma que muitos aplicadores transferiram investimentos de longo prazo para a previdência. O Bradesco é o segundo maior gestor de recursos do país e sua seguradora é líder no setor de previdência privada. E esse crescimento estaria apenas no começo. As perspectivas de uma expansão econômica maior nos próximos anos e a possível reforma da previdência são dois fatores que devem impulsionar ainda mais a captação da previdência privada, avalia o vice-presidente da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), Marcelo Giufrida. Ele lembra que esse crescimento das carteiras de previdência é natural de um mercado iniciante. O mesmo aconteceu no setor de fundos de investimento na década de 90 com os DI, renda fixa, multimercados. Agora, esses fundos encontram-se numa fase de consolidação. O crescimento da previdência privada é um resultado da situação econômica, na visão do professor do IBMEC-SP e sócio da ForeSee Investimentos, João Luiz Mascolo. "Num país em que 40% dos brasileiros vivem do trabalho informal, não poderia ser diferente", avalia. "Essas pessoas precisam sozinhas garantir sua aposentadoria, já que não poderão contar com o governo."(DF e DC)