Título: Preços do açúcar alcançam maior nível em três anos
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Agronegócios, p. B8

A colheita de cana será recorde no Brasil na safra 2005/06, mas o volume deverá ficar abaixo do que previam inicialmente produtores e analistas de mercado. Isso porque o clima seco em algumas regiões do país, sobretudo no Nordeste, Paraná e alguns Estados do Centro-Oeste comprometeu o desenvolvimento das plantas. No Centro-Sul, a produção deverá ficar abaixo de 340 milhões de toneladas, enquanto as previsões iniciais sinalizavam até 360 milhões. Na temporada 2004/05, a safra ficou em 329 milhões de toneladas. No Nordeste, a colheita era estimada em até 56 milhões de toneladas, mas as últimas previsões já indicavam algo entre 46 milhões e 48 milhões. "A safra nordestina vai terminar mais cedo, no fim de janeiro [tradicionalmente os trabalhos findam em abril], em razão da falta de matéria-prima", afirmou Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar/PE (entidade que reúne as usinas de açúcar e álcool de Pernambuco). Segundo Plinio Nastari, presidente da consultoria Datagro, as usinas do Centro-Sul intensificaram a transferência de álcool combustível para o Nordeste em virtude da menor oferta naquela região. Até a semana passada, os volumes transferidos na safra alcançaram 730 milhões de litros. As novas previsões de uma safra menor, ainda que recorde, estão colaborando para alavancar ainda mais os preços do açúcar e do álcool no país. Ontem, o índice Cepea/Esalq para a saca de 50 quilos do açúcar atingiu R$ 43,84, maior cotação nominal em um mês de dezembro nos últimos três anos. Nos últimos doze meses, os preços já subiram 43,8%. No caso do álcool não é muito diferente. Os preços do anidro e do hidratado seguem firmes, apesar de não terem atingido patamares recordes. O litro do anidro está saindo por R$ 1,09340 (sem impostos), alta de 23,9% sobre igual período do ano passado. Já o litro do hidratado está em R$ 0,99213 e acumula aumento de 32% na mesma comparação. "Teremos uma oferta apertada durante a entressafra, mas não teremos um cenário de desabastecimento [para álcool]", disse Júlio Maria Martins Borges, presidente da Job Economia e Planejamento. Segundo ele, a antecipação do início da safra de maio para abril não permitirá que falte produto no mercado doméstico. Levantamento realizado pelo Cepea/USP mostra que a paridade entre o álcool e a gasolina já não está tão favorável ao álcool em alguns Estados do país. Tradicionalmente, abastecer com álcool é mais vantajoso quando os preços do álcool correspondem a entre 60% e 70% dos preços da gasolina. No Rio, tal paridade está em 67,8%, com base nos cálculos da Agência Nacional do Petróleo (ANP). No Mato Grosso e no Distrito Federal, está em 67%, e na Bahia, em 65,3%. No Rio Grande do Sul, o limite foi ultrapassado e a paridade chegou a 77,5%. Vale lembrar que estes Estados não são tradicionais produtores. Em São Paulo, maior produtor de álcool do país, a paridade do hidratado está em 57,7%. (MS)