Título: Parcerias com varejo ganham espaço e as compras escasseiam
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2005, Finanças, p. C1

Negócios Alta em bolsa inibiu trocas de controle mas viabilizou as vendas ao mercado

A compra do Banco do Estado do Ceará (BEC) pelo Bradesco por R$ 700 milhões, em leilão de privatização na semana passada, foi a maior operação de troca de controle de uma instituição financeira neste ano, de resto bastante fraco em fusões e aquisições no setor. As operações de troca ou aumento de participação no controle de instituições financeiras movimentaram R$ 1,5 bilhão. Em 2004, as fusões e aquisições montaram a R$ 2,3 bilhões no setor financeiro. Se incluídas duas grandes vendas pulverizadas de ações em bolsa, que não envolveram mudança de controle, o total chega a R$ 4,3 bilhões neste ano. Só a operação de venda da participação no Unibanco da Caixa Geral de Depósitos (CGD) em mercado movimentou R$ 1,8 bilhão. E a de 28,7% do capital da Nossa Caixa, também em bolsa, girou outros R$ 953 milhões. "Já não temos mais grandes oportunidades de aquisições. Não há nenhuma grande operação visível", disse o presidente do Itaú, Roberto Setubal, em apresentação a analistas do setor, ao justificar a opção pelo crescimento orgânico. A perspectiva é de poucos negócios também em 2006. A fase de consolidação terminou igualmente para o presidente do Unibanco, Pedro Moreira Salles, ou pelo menos deu uma pausa. "Seis bancos privados disputam o mercado financeiro de modo integral. É difícil algo acontecer entre os seis, especialmente porque o mercado está crescendo", referindo-se ao Bradesco, Itaú, Unibanco, Real, Santander Banespa e HSBC, igualmente em apresentação a analistas do mercado. Já os bancos de menor porte encontraram nichos "e são eficientes nisso", acrescentou Moreira Salles. "Não espero mudanças só porque o Brasil voltou a entrar na moda no exterior. Alguns grandes nomes estrangeiros tentaram entrar no mercado mas desistiram porque não conseguiram desenvolver operações sustentáveis." A elevação dos preços das ações bancos brasileiros é outro motivo que inibe as aquisições. As ações de bancos subiram de uma vez e meia a quase cinco vezes a variação do índice Bovespa. As ações preferenciais nominativas do do Bradesco subiram 122,68% neste ano para R$ 69,31 ontem. As preferenciais do Itaú tiveram valorização de 42% para R$ 55,66; e as units do Unibanco saltaram 82,45% para R$ 29,90. Enquanto isso, o índice Bovespa está acumulando alta de 27,11% no ano. Enquanto as fusões e aquisições foram fracas, proliferaram as parcerias entre bancos e redes de varejo e as cessões de carteiras de crédito. As compras ou cessões de carteira ganharam impulso na virada do ano, depois que a quebra do Banco Santos apertou a liquidez das demais instituições de médio porte. Bancos médios especializados em financiamento ao consumo e no crédito consignado conseguiram funding para continuar operando vendendo parte de suas carteiras ou da sua produção futura. Para os grandes bancos, o negócio foi a oportunidade de entrar em segmentos não explorados anteriormente, como o crédito consignado. Mas a face mais promissora é a parceria com redes de varejo, inicialmente para a oferta de crédito direto ao consumidor (CDC). Essas parcerias se mostraram também pontas de lança para os bancos de varejo venderem outros produtos como crédito pessoal, seguros, fundos de investimento e os cobiçados cartões. Depois que as grandes redes de varejo acertaram seus casamentos, os grandes bancos de varejo partiram as redes regionais. O Bradesco é um deles mas não é o único. A financeira GE Money tem a mesma estratégia. E o Banco do Brasil (BB) prometeu seguir o mesmo caminho no próximo ano mesmo porque não pode fazer aquisições. O Banco Central (BC) já esvaziou qualquer expectativa de novos lances do programa de privatização ainda no governo Lula. O diretor de liquidação e desestatização do BC, Antonio Augusto do Vale, explicou que não há tempo suficiente para isso. Estão na fila do programa de reestruturação para venda do Banco Central o Banco do Estado do Piauí (BEP) e o Banco do Estado de Santa Catarina (Besc).