Título: Para analistas, pressão sobre os preços é pontual e não preocupa
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Brasil, p. A3

O repique da inflação neste começo do ano deve-se a fatores sazonais ou pontuais, e não sugere uma trajetória preocupante para os preços nos próximos meses, segundo analistas. Ontem, a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) para os 30 dias terminados em 22 de janeiro, que registrou alta de 0,74%. É um resultado ainda alto, próximo do 0,76% do indicador da semana passada, mas que já mostrou um arrefecimento da inflação de alimentos. Quem mais subiu foi o grupo educação, leitura e recreação (2,33%), que costuma aumentar com mais força neste período, devido ao reajuste de mensalidades escolares. Já as projeções do mercado coletadas pelo Banco Central (BC) mostraram a segunda elevação seguida nas estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2006, que passou de 4,58% para 4,61%. O indicador ficou um pouco mais distante do centro da meta deste ano, de 4,5%, mas ainda totalmente sob controle, de acordo com analistas. O economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, diz que a alta mais forte de índices como o IPC-S e o IGP-M da FGV não é preocupante. "São aumentos pontuais, que devem se dissipar a partir do mês que vem", afirma ele. Os preços dos alimentos, por exemplo, já começaram a subir com menos força, como mostra o IPC-S. Na semana passada, o grupo alimentação havia subido 1,36%; no número divulgado ontem, a alta foi de 1,13%. A economista Tatiana Pinheiro, do ABN Amro, também avalia que a alta dos preços de alimentos é algo temporário. "Parece mais um repique do que uma pressão que veio para ficar." O grupo transportes também subiu bastante no IPC-S, registrando variação de 1,36%. O item combustíveis e lubrificantes aumentou 2,41%, mais do que os 2,21% da semana passada, bastante influenciado pela elevação dos preços do álcool, de 9,97%. São altas fortes, mas concentradas em fatores pontuais, que não indicam uma pressão generalizada sobre a inflação. Para Salomon, a trajetória futura dos preços parece tranqüila, porque a demanda continua fraca. Com isso, não deve haver espaço para repasses significativos das altas mais "salgadas" do atacado para o varejo, avalia ele. Na segunda prévia do IGP-M, divulgado na semana passada, os preços no atacado mostraram uma variação mais forte, de 1,03%, bem acima da queda de 0,3% registrada no mês anterior. Os analistas estão corrigindo suas previsões para a inflação no curto prazo, o que tem levado para cima as estimativas do mercado para o IPCA de 2006. Tatiana lembra que, no fim do ano passado, o mercado projetava um IPCA de 1,19% no primeiro trimestre, número que está atualmente em 1,36%. Esse movimento refletiria um ajuste das projeções dos analistas à previsão do BC para este período, de 1,3%, que foi divulgada no relatório de inflação de dezembro, e também ao repique nos índices divulgados nas últimas semanas. Nada que seja preocupante, segundo ela, que prevê um IPCA de 4,3% neste ano. Salomon é um pouco mais pessimista, projetando 4,7%. Os dois, porém, avaliam que há bastante espaço para o BC reduzir a Selic neste ano, apostando num corte de 0,75 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de março. O relatório semanal do BC com as projeções do mercado indicou que a projeção para o IPCA acumulado em 12 meses teve ligeira alta, de 4,6% para 4,62%. A previsão para o crescimento do PIB de 2005, por sua vez, recuou de 2,4% para 2,3%. Para 2006, a estimativa continuou em 3,5%. (Com Valor Online)