Título: Banco vê "febre" de idéias na indústria brasileira
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Brasil, p. A4

A determinação do BNDES em dar forte apoio financeiro a projetos de inovação das empresas está apoiado em diagnóstico da área técnica da diretoria de Planejamento. Pesquisa de campo feita pela assessoria de Antonio Barros de Castro constatou que há uma "febre" de desenvolvimento de idéias nas empresas brasileiras. Segundo o banco, o difícil é encontrar setor em que isso não ocorra. A criação pelo banco de linhas de financiamento que beneficiem essas iniciativas tem como meta tornar mais vigoroso esse processo, que ainda é visto como limitado pelos técnicos da instituição de fomento. "A idéia é criar condições para estimular empresas a fazerem projetos mais arriscados e de maturação mais longa", dizem assessores de Castro. As freqüentes visitas às empresas feitas pela área técnica do banco atestam que os mais diversos setores estão trabalhando em desenvolvimento de protótipos para melhorar a competitividade de produtos e criar mercados, como revelam exemplos da Braskem, Usiminas, Fundição Tupy, Ford, Petroflex, Opto Eletrônica, empresas de celulose, como a Aracruz e de automação de processos, entre outras. Há também numerosas iniciativas sendo levadas a efeito por pequenas empresas. Assim, uma pequena empresa carioca, a Pipeway, que nasceu na incubadora da PUC-RJ, avisa que pode ser candidata aos recursos do BNDES para ampliar a presença no exterior e também desenvolver novos produtos. É especializada em ferramentas para inspeção de dutos. Além de atender a Petrobras, que junto com a PUC recebe royalties das vendas, as ferramentas são exportadas. "Começamos só com a Petrobras, mas em 2005 a estatal já respondeu por apenas 15% das vendas. Já entramos na Argentina e na Colômbia. Com apoio do BNDES, podemos consolidar nossa presença na América Latina, chegar aos Estados Unidos, onde estão 60% dos dutos do mundo. Além disso, podemos ampliar nossos produtos", diz um dos sócios, José Augusto Pereira da Silva. A Fundição Tupy lançou no mercado, em 2004, blocos e cabeçotes de motor com ferro fundido vermicular. Com o dobro da resistência dos tradicionais, agregam mais desempenho, são utilizados nos automóveis com supermotores como Jaguar, Audi e Land Rover. Com oito escritórios no exterior, a Tupy investe 1,4% do faturamento (em 2004 foi de R$ 1,4 bilhões) em pesquisa e desenvolvimento. Vem buscando recursos na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), mas como lembra um dos responsáveis pela área, Wilson Luiz Guesser, a empresa faz produtos tradicionais, mas sempre agregando valor e principalmente tecnologia para se distinguir dos concorrentes. E afirma que a entrada do BNDES nessa área tem peso: "O banco tem contato com várias empresas, apoiando em diversas formas a indústria nacional", diz. A atividade inovadora das indústrias instaladas no país tem rendido bons frutos. Os aviões da Embraer são uma prova, realçam os técnicos do banco. A idéia de fabricar aviões no Brasil é de 1934. Com a vinda do americano Robert Smith, que foi o primeiro reitor do ITA, em São José dos Campos, o sonho se tornou realidade. A Usiminas, siderúrgica mineira, foi capaz de vencer o desafio científico que lhe foi imposto pela indústria automobilística: criar uma chapa de aço fácil de moldar, mas que ficasse dura depois do carro pronto. O invento foi patenteado com o nome de Usistar. A nova chapa está sendo usada pela Fiat desde a criação do Palio. Devido a isso, as usinas siderúrgicas mineiras investiram na formação de pessoal. Outro exemplo de sucesso foi o protótipo do EcoSport, da Ford. A empresa, antes refratária a inovações, "ressuscitou" de uma certa letargia depois de desenvolver o modelo, que tornou a montadora uma empresa lucrativa. A Opto Eletrônica tem vários projetos de inovação em desenvolvimento nas suas gavetas. No momento, está tocando o projeto da visão termal, uma invenção que permitirá a aviões e helicópteros fazer pousos noturnos em locais sem iluminação apropriada. A média mundial de investimentos das empresas em pesquisa e desenvolvimento varia entre 0,5% a 30% de seu faturamento. Em biotecnologia chega a 30%. Na siderurgia, a 0,5%. Na indústria petroquímica brasileira esse percentual alcança entre 1% a 1,5%. "Todas as petroquímicas brasileiras têm uma agenda de pesquisa muito importante", realçam os "rastreadores" de inovação da área de Planejamento do BNDES. A Petroflex, única empresa de borracha sintética do Brasil, tem uma agenda de pesquisa que envolve colaboradores do exterior em centros universitários de produção de conhecimento. A Polialden, controlada pela Odebrecht, desenvolveu um plástico de alta densidade, patenteado como Utec, que substitui o aço em aplicações onde esse produto não dá conta. A Braskem tem também centro de pesquisa para tocar inovações. Foi ela que inventou os novos copinhos de plástico para requeijão. A indústria de papel e celulose também tem histórias para contar. Em seus centros de pesquisa que desenvolvem estudos sobre o genoma do eucalipto foi criada uma variedade da planta, a HC -1529, extremamente produtiva. De 1974 a 2005 a produtividade do eucalipto cresceu a 4,5% ao ano por tonelada/hectare. Pela tendência histórica, em 2005 a produtividade deveria ser de 190 toneladas/hectare. Com a nova variedade, ela vai pular para 262 toneladas por hectare. A Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec) do IBGE, com base trienal, detectou que 30% das empresas brasileiras são de alguma forma inovadoras.