Título: BNDES vai destinar este ano R$ 1 bi para inovação tecnológica
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Brasil, p. A4

Desenvolvimento Programas vão financiar pesquisas e a construção de fábricas dos novos produtos

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) pretende sair de um alinhamento tópico com a política industrial para passar, a partir deste ano, para uma ofensiva "tão ampla quanto possível" na área de inovação, sua prioridade número um em 2006, adiantou ao Valor o diretor da área de Planejamento do banco, Antonio Barros de Castro. A idéia, como ele disse, é financiar todo o "ciclo de inovação" das empresas, desde o desenvolvimento de protótipos até a fabricação de novos produtos e a sua própria comercialização. O banco já conta com linha de crédito de R$ 1 bilhão para direcionar a esses projetos, sendo metade para pesquisa e desenvolvimento e metade para a construção de fábricas que irão replicar a inovação. Já foram definidas condições de financiamento para dois dos três programas do "pacote de inovação", ambos com juro fixo e "spread" zero. O primeiro programa de financiamento, que mais entusiasma Castro, é o Programa de Desenvolvimento de Inovação (PDI), que contará com R$ 500 milhões para empréstimos às empresas que investirem em pesquisa e desenvolvimento de novas idéias. As condições de financiamento do PDI são juro fixo de 6% ao ano, "spread" zero e prazo de até 12 anos para pagar e participação do banco superior a 80%, podendo chegar em alguns casos a até 100%. O segundo programa, chamado de Inovação Produção (IP) , que vai financiar unidades para fabricação dos produtos com base em inovações, contará com outros R$ 500 milhões e terá seu custo corrigido pela TJLP (hoje de 9% ao ano), spread zero, mais prazos e participação do banco semelhantes aos do PDI. A área de planejamento está definindo as condições do crédito para a linha de comercialização dos novos produtos. Essa linha vai apoiar vendas no mercado interno e exportações, disse Castro. Todas essas novidades integram a nova política para investimentos que o BNDES vai implantar a partir de 2006. Ela será anunciada dia 31, por Guido Mantega, presidente do banco. A base da nova estratégia será uma escala de prioridades para fomentar o crescimento econômico, com níveis de "spread" que variam de zero a 3%, levando em conta a necessidade de promover o desenvolvimento ancorado em novas forças motrizes da economia, mais a superação de gargalos que estrangulam o crescimento do país. O novo conceito aponta para "escolhas estratégicas", razão pela qual a inovação foi eleita a prioridade número um do banco, entendida no sentido de gerar e reproduzir a inovação em escala industrial. "Queremos deselitizar a tecnologia. Incorporar inovação na vida das empresas, sair do discurso para a prática. Um projeto para desenvolver um produto que evite fissura no asfalto, por exemplo, é uma grande invenção, um grande investimento para o país", disse Castro. Ele citou ainda o plano da Braskem, maior empresa de resinas plásticas da América Latina, controlada pelo Grupo Odebrecht, que estuda criar um plástico à base do álcool, em substituição ao petróleo. Para passar da intenção de inovar à prática, o banco pretende alterar o próprio formulário através do qual as empresas acessam o banco para pedir recursos. Na hora de solicitar o crédito e mesmo na sua contratação, o banco vai levar em conta os projetos de inovação de cada empresa, informou Castro. Se a resposta for positiva, a instituição vai atrelar ao financiamento do projeto de investimento uma linha de crédito só para o desenvolvimento do projeto de inovação (PDI). "O que queremos é desengavetar os projetos de inovações." As outras prioridades "altas" já definidas pelo banco são: investimentos na infra-estrutura, com destaque ("spread" zero) para investimentos destinados a desatar os "nós" do sistema de transporte e na esfera da energia. E o apoio ao avanço da indústria de bens de capital. Essa indústria é considerada matriz dos progressos técnicos a serem realizados na economia. "De fato, o grande número de avanço na produtividade e na competitividade das empresas nasce nesta indústria", observa o diretor de Planejamento. Castro destacou o grande esforço que o banco vem fazendo no sentido de reduzir o "spread" básico médio da instituição, que em passado recente era de 2%. Na política a ser anunciada, o "spread" médio cairá para 1,4%. E é com base nessa margem que o BNDES pagará todas suas despesas e ainda remunerará em 5% seu patrimônio líquido. Para Castro, essa nova orientação de trabalho alinha o banco a um movimento já em curso na industria brasileira, no sentido de gerar cada vez mais suas próprias mudanças. "Se não partirmos vigorosamente para a criação de novos produtos, teremos que disputar espaço com os imitadores de tecnologia (China e Leste Europeu), no nosso próprio mercado", previu. Ele acredita que o fenômeno do maior empenho das empresas brasileiras em inovar, para não perder mercado (só recentemente observado), pode ser acelerado por políticas públicas. "A freqüência das inovações ao gerar ativos diferenciados e permitir a obtenção de "preços-prêmio" já tem dado, sem dúvida, sua contribuição para o desempenho extraordinário do nosso balanço de pagamentos", concluiu. Os números do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) confirmam o fato. Estudo feito pelo instituto mostra que a indústria brasileira investiu no ano de 2000 US$ 2 bilhões em pesquisa e desenvolvimento, enquanto a argentina, US$ 186 milhões. E mais que isso: o bloco das indústrias "tecnológicamente avançadas" - que é muito maior no Brasil - gastava 3,99% do seu faturamento em pesquisa e desenvolvimento, ante 1,54% das argentinas.