Título: Lula quer eleição de poucos candidatos
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Política, p. A6
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva piscou para o PMDB, mas é pouco provável que mobilize as tropas do PT para derrubar a verticalização das eleições, cuja votação está sendo articulada pelos líderes partidários na Câmara. Em recuperação nas pesquisas, Lula aposta num quadro de poucos candidatos para vencer outra vez a eleição presidencial, cenário bastante plausível, se for mantido o veto que impede partidos com candidatos próprios ao Palácio do Planalto de se coligar nas eleições estaduais. Lula, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e o publicitário João Santana são os arquitetos da contra-ofensiva eleitoral desencadeada pelo presidente. Essa estratégia prevê, basicamente, o confronto dos resultados obtidos por Lula com os números deixados em 2002 pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Alguns exemplos citados por Lula: o preço do saco de arroz de cinco quilos, que, no início do governo, custava R$ 13 e hoje está entre R$ 4,80 e R$ 5,20; o cimento, que baixou de R$ 22,50 para R$ 8; o gás de cozinha, que não sofreu reajuste desde que o presidente assumiu. Lula também gosta de sacar a média mensal de empregos criados, de 8.302 entre 1995 e 2002, para 95.075 entre 2003 e 2005. Para estabelecer a comparação com o PSDB, o importante para os estrategistas palacianos é ter poucos candidatos na disputa. Numa eleição verticalizada, aposta-se que o PMDB não levará até o fim a proposta de candidatura própria. E que dificilmente partidos como o PDT, com os senadores Cristovam Buarque (DF) ou Jefferson Péres (AM), ou o PPS, com o deputado Roberto Freire (PE), que lhe tiram votos pela esquerda, se sentirão estimulados a entrar numa aventura que pode comprometer o desempenho de suas legendas nas eleições proporcionais. A lógica desse cenário conduz ao pré-candidato tucano José Serra. O argumento é que seria mais fácil colar a imagem do prefeito de São Paulo à gestão de Fernando Henrique Cardoso. Ele foi por duas vezes ministro de FHC e o candidato do ex-presidente nas eleições de 2002, vencida por Lula. Seria o terceiro turno. É por isso que Lula tem confidenciado preferir disputar com Serra a ter que enfrentar o governador Geraldo Alckmin, por considerá-lo uma incógnita.
Estratégia é comparar governo com o de FHC
Numa disputa contra Serra, e sem Garotinho, o PT acredita que teria o apoio do PMDB na maioria dos Estados importantes. Nesse ponto começam as dificuldades na estratégia palaciana: o PSDB tem a mesma convicção, sobretudo Serra, e já opera os pemedebistas, que hoje se reúnem para tomar uma decisão importante: adiar ou manter as prévias partidárias para a escolha do candidato do partido. Nem uma coisa nem outra: será feito apenas um ajuste de calendário. Os governistas jogaram a toalha, mas ainda não dão a guerra como perdida. Se, até março, não for possível liquidar a eleição preliminar, eles devem jogar suas fichas na candidatura do governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Nada melhor do que duas frases pronunciadas numa recente reunião de caciques pemedebistas para explicar a preferência. "É capim que pode crescer em qualquer porta", disse um. "Cabe em qualquer moldura", arrematou outro, numa referência ao fato de Rigotto ser próximo também dos tucanos. A oposição, por seu turno, também definiu a estratégia para enfrentar a contra-ofensiva que Lula desencadeou e deve intensificar agora que dá sinais de recuperação nas pesquisas. Na avaliação oposicionista, a recuperação de Lula está relacionada ao profundo desgaste sofrido pelo Congresso durante o período da convocação extraordinária. Agora não haveria mais nada para "desviar o ódio da opinião pública". Assim, PSDB e PFL decidiram que é hora de voltar a subir o tom, especialmente no palco das comissões de inquérito. O ministro Antonio Palocci e o publicitário Duda Mendonça serão os alvos prioritários, porque os piores momentos de Lula teriam ocorrido justamente quando os dois estiveram no centro da cena. E para impedir a manobra do governo para levar a CPI dos Correios a um impasse como ocorreu com a CPI do Banestado, a oposição pretende incrementar as investigações da CPI dos Bingos, onde tem conseguido administrar a maioria. Até para usá-la como moeda de troca nas negociações sobre os relatórios da CPI dos Correios.