Título: Palocci negocia depoimento à CPI dos Bingos
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Política, p. A6

O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, informou ontem a senadores da oposição - enquanto negociava seu comparecimento à CPI dos Bingos - que não deixará o ministério e que também não sairá do posto em março para coordenar a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Palocci conduziu pessoalmente a estratégia política com a oposição para que seu comparecimento à CPI não o coloque, novamente, em posição de fragilidade no governo. No fim do ano passado, Palocci cogitou deixar o governo logo depois que suas divergências com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foram expostas publicamente e que denúncias sobre sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto vieram à tona. Agora, com o clima político menos radicalizado no governo, Palocci prepara-se para auxiliar Lula na campanha de reeleição, mas permanecendo no cargo de ministro. A data mais provável da audiência pública com Palocci na CPI dos Bingos é quinta-feira, mas o próprio ministro ponderou ontem que gostaria de avaliar o quadro econômico dos próximos dias para evitar qualquer tipo de turbulência no mercado. Ele quer falar à CPI em um dia tranqüilo para não incitar especulações na economia. A comissão parlamentar investiga denúncias de irregularidades em Ribeirão Preto e o suposto envolvimento de assessores e ex-auxiliares de Palocci no esquema. O ministro ouviu da oposição que não será feito nenhum cavalo de batalha, caso seja necessário transferir o depoimento para terça-feira. Reunidos na manhã de ontem na Granja do Torto, Lula e os ministros avaliaram que não há razões para temer o comparecimento de Palocci à CPI, já que o próprio ministro havia se comprometido com os senadores no fim do ano passado, deixando em aberto apenas a data. "Palocci vai explicar tudo o que os senadores perguntarem", sustentou um ministro. O próprio Palocci participou da reunião, que contou com a presença do presidente e dos ministros Jaques Wagner, Ciro Gomes, Dilma Rousseff, Luiz Dulci e Márcio Thomaz Bastos, além do vice-presidente José Alencar. O comparecimento de Palocci à CPI dos Bingos sem que a comissão votasse um requerimento de convocação já estava definido desde sexta-feira. Em viagem ao Acre para acompanhar o presidente Lula, Palocci conversou com o senador Tião Viana (PT-AC). O petista o informou que não haveria mesmo possibilidade de evitar a votação de um requerimento da oposição convocando-o a depor. O ministro, então, antecipou-se. "Na medida em que o ministro se oferece para comparecer, ele colabora espontaneamente com as investigações. A votação de um requerimento acirraria muito os ânimos", analisou o relator-geral da CPI, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN). Para Tião Viana, a presença de Palocci será fundamental para que a oposição esclareça todas as dúvidas. "Os fatos (as denúncias contra Palocci) ocorreram há mais de dez anos. Treze mil contratos da prefeitura foram vasculhados e não se encontrou irregularidade", disse Tião Viana. A oposição cumprirá um ritual político, sem nenhuma intenção em fragilizar Palocci. Na avaliação de integrantes do PFL e do PSDB, há outras formas mais eficazes de atingir Lula na CPI. Duas delas são a quebra do sigilo bancário do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, amigo de Lula que quitou uma dívida sua com o PT, e o depoimento de Roberto Teixeira, advogado da Transbrasil e compadre do presidente. "Será uma audiência dura, mas extremamente respeitosa. Não se pretende massacrá-lo", afirmou o líder do PFL, senador José Agripino Maia (RN). Segundo o líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), está na hora de Palocci comparecer. "Sempre o tratamos com muita consideração e não nos intrometemos na briga do ministro com a Dilma. Agora, precisamos encerrar esse capítulo, virar essa página. Palocci sempre teve um tratamento fraterno da oposição e continuará tendo. O tom da audiência será urbano e parlamentar", afirmou o tucano. (Colaboraram Paulo de Tarso Lyra e Thiago Vitale Jayme)