Título: Manobra adia cassação de deputados do caixa 2
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Política, p. A6

O Conselho de Ética e Decoro Parlamentar assistiu ontem à leitura do relatório no qual o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP) pede a cassação do mandato do deputado Pedro Corrêa (PE), presidente nacional do PP. Acusado de coordenar o recebimento, pelo PP, de R$ 700 mil do valerioduto, o parlamentar conseguiu um pouco mais de tempo para tentar articular sua absolvição junto aos colegas. O deputado Benedito de Lira (PP-AL) pediu vista do processo e tem prazo de duas sessões para recolocá-lo em discussão no conselho. O texto de Carlos Sampaio, que está em Paris, foi lido por seu colega de partido Gustavo Fruet (PR). Pedro Corrêa também não participou da sessão. Ele preferiu acompanhar a reunião pela televisão, da sala do presidente do conselho, Ricardo Izar (PTB-SP). O advogado Eduardo Ferrão defendeu o presidente do PP e teve atuação elogiada pelos deputados e até pelo relator interino. Corrêa sustenta que os R$ 700 mil foram recebidos do PT para pagar o advogado Paulo Goyas, defensor do deputado Ronivon Santiago (PP-AC) em mais de 35 ações na Justiça. Ferrão defendeu a tese de que o recebimento, por partido político, de ajuda financeira de outra sigla não é ilegal. "Não se pode transformar em quebra de decoro fato que sequer é reprovado legalmente", sustentou o advogado. Em seu texto, Carlos Sampaio listou as irregularidades do recebimento do dinheiro pelo PP: "A informalidade incomum dos saques junto às instituições bancárias, a transferência das quantias sem prestação de contas ou comprovação de origem, a intermediação de empresário comprovadamente envolvido no chamado 'escândalo do mensalão' e o testemunho do senhor Marcos Valério". Segundo Sampaio, tais fatos ferem "frontalmente o Código de Ética e Decoro Parlamentar". Ao fim da leitura do voto, Benedito de Lira pediu vista do processo. Deverá colocá-lo em votação a partir de sexta-feira. Ainda esta semana, o Conselho de Ética deverá votar a cassação dos deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Professor Luizinho (PT-SP). Ambos tiveram seus pedidos de cassação solicitados pelos respectivos relatores e ainda sobrevivem graças a pedidos de vista. Na quarta-feira, Moroni Torgan (PFL-CE) colocará o caso de Brant em votação. Na quinta, será a vez de Angela Guadagnin (PT-SP) levar o caso de Luizinho para a apreciação dos colegas.