Título: PT identifica vulnerabilidades em Serra
Autor: César Felício, Caio Junqueira e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Política, p. A7

Eleições Apesar de disposição de Lula em adiar decisão, Berzoini espera lançar candidatura à reeleição em abril

Sob o risco de ter de aguardar até junho pela definição da candidatura ou não do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à reeleição, o PT procura identificar as fraquezas dos rivais. Na cúpula do partido, o prefeito paulistano José Serra é visto como o candidato do PSDB mais vulnerável em um embate contra Lula, mas a avaliação é que o favoritismo do outro lado do front estaria com o governador paulista Geraldo Alckmin. "O Serra levanta dúvidas no meio empresarial e esteve longamente no governo Fernando Henrique, permitindo que seja feito o contraste entre o saldo dos dois governos federais na campanha", afirmou o presidente do PT, o deputado Ricardo Berzoini (SP). Com Alckmin, haveria mais dificuldade para o PT pautar o debate eleitoral. A recuperação de Lula na pesquisa de intenção de votos do Ibope frente a Serra e Alckmin é vista ainda com cautela pelo partido. A popularidade do presidente tem aspectos sazonais e janeiro, em função do pagamento do décimo-terceiro salário, é visto como um momento favorável a qualquer governante. "O que é fantástico é Lula manter um patamar nas pesquisas relativamente alto, mesmo com a oposição monopolizando o noticiário". De certo, Berzoini vê apenas a presença das denúncias do ano passado na campanha de outubro. "A questão da corrupção estará presente e não podemos ser nem arrogantes, nem defensivos", disse. Devastado pela crise política do ano passado, o PT não preparou nenhuma alternativa a Lula caso o presidente não se recandidate e a direção do partido ainda tenta convencer Lula a antecipar sua decisão para antes das convenções partidárias. "Será antinatural se não anunciarmos Lula como o nosso candidato no encontro nacional de abril", afirmou Berzoini, ressalvando que Lula pode adotar a estratégia do então governador paulista Mário Covas em 1998. "O Covas chegou a dizer que não era candidato e anunciou a sua decisão faltando três dias para o prazo final". Covas terminou ganhando a eleição. Marcado inicialmente para ocorrer em Belo Horizonte, a maior cidade que o PT governa, o encontro nacional foi transferido para a quadra do Sindicato dos Bancários em São Paulo, por motivos de economia. Berzoini afirmou que o PT só conseguiu arrecadar R$ 3 milhões dos R$ 13 milhões previstos na campanha junto aos filiados para revitalizar os cofres da legenda. A campanha terminará no dia 30. Nas próximas semanas, a Executiva Nacional da sigla deverá bater na porta de empresas para pedir colaborações para o cofre do partido. O próprio Berzoini irá coordenar o esforço de arrecadação. O presidente do PT disse não acreditar que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, deixe o governo para assumir a coordenação da campanha pela reeleição de Lula, candidatando-se a um novo mandato como deputado federal em São Paulo. Mas afirmou que, até o momento, devem deixar a Esplanada dos Ministérios para disputar as eleições os ministros Paulo Bernardo (Planejamento), Jaques Wagner (Coordenação Política), José Fritsch (Pesca), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário) e Marina Silva (Meio Ambiente). O primeiro deles, cotado para disputar o governo do Paraná ou uma cadeira na Câmara, é muito ligado a Palocci. O que para Berzoini está certo é que não haverá contestação aos fundamentos da política macroeconômica no momento de se definir o programa do candidato. "A minoria no partido defende a quebra de postulados como o regime de metas, a geração de superávit primário e o câmbio flutuante. O que a média do PT reivindica é apenas uma execução orçamentária mais forte do que a existente, sem o excesso de contenção que ocorreu no ano passado. A defesa da atual gestão econômica não deve significar, entretanto, o endosso do partido a reformas mais amplas na economia. Ex-ministro da Previdência, Berzoini é contra uma nova reforma em sua área. "O regime geral é sustentável, depois da introdução do fator previdenciário, e o regime do funcionalismo foi corrigido parcialmente com a mudança feita no governo Lula. A Previdência não é mais uma área fundamental a ser reformada", disse. Reticente em fazer projeções sobre o impacto que a crise política terá sobre o PT, o dirigente contesta as previsões de redução da bancada petista nas próximas eleições. Para Berzoini, os deputados candidatos à reeleição mudaram seu foco de atuação: deverão fazer uma campanha menos identificada à imagem do partido e mais ligada a obras do governo federal. Um deputado petista poderá transmitir ao eleitorado que ele será o responsável pela instalação de uma futura universidade federal em sua região, por exemplo. "É uma mudança natural de discurso quando se deixa a oposição e se passa a ser governo", afirmou.