Título: EUA dizem já ter apoio para levar Irã ao CS
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Internacional, p. A8

Os EUA garantem já ter reunido o apoio necessário da comunidade internacional para levar o programa nuclear iraniano ao Conselho de Segurança (CS) da ONU. A informação foi dada a jornalistas brasileiros pelo embaixador americano junto à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Gregory Schulte. Segundo ele, a Casa Branca conseguiu um número suficiente de votos para aprovar, no comitê de governantes da entidade, que se reúne em caráter extraordinário em 2 de fevereiro, o envio de um relatório detalhado para o Conselho de Segurança. O Brasil faz parte do comitê, composto por 35 países. Em teleconferência com a imprensa brasileira, Schulte disse que os EUA teriam reunido, pelo menos, a maioria simples dos votos - o que já é suficiente para aprovar uma denúncia do programa nuclear do Irã ao órgão da ONU. Em tese, o CS pode autorizar a adoção de sanções contra Teerã. "Queremos operar na base do consenso, mas sabemos que temos os votos", disse o embaixador, que identifica resistência de países como França, Cuba e Venezuela. "Quanto mais países adotarem essa posição, mais forte a mensagem que mandaremos ao Irã. E o Brasil pode desempenhar papel importante." Se for levado ao Conselho de Segurança, o Irã ameaça suspender as inspeções da AIEA em suas instalações nucleares e retomar o enriquecimento de urânio - o que, segundo suspeita a agência internacional, tem objetivos militares. O porta-voz do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, Hossein Entezami, afirmou ontem que "todas as atividades nucleares suspensas voluntariamente, inclusive o enriquecimento de urânio em escala industrial", serão retomadas no caso de uma denúncia à ONU. Entezami advertiu que "as negociações não podem se intrometer nas atividades de pesquisa em laboratório". O embaixador diz que a justificativa do Irã não é verdadeira nem faz sentido econômico. Ele conclamou os membros do comitê de governantes da AIEA a levar o caso ao CS, o que "não significa o fim da diplomacia". Schulte reconheceu que o esforço de sensibilizar a comunidade internacional para o problema é dificultado pelos erros de avaliação dos serviços de inteligência dos EUA nas investigações que identificaram equivocadamente a existência de armas em destruição em massa no Iraque. "Isso torna as coisas mais difíceis", diz Schulte. Mesmo assim, manteve o seu apelo. "É sempre tentador dar mais tempo às negociações, mas chegamos a um ponto em que as autoridades iranianas entenderam isso mal e parecem determinadas a seguir adiante. Quando demos mais tempo, em setembro e em novembro, eles viram como um sinal verde à continuidade do programa." Nas últimas duas semanas, o Irã cortou mais de 50 selos que cobriam equipamentos centrífugos e matérias-primas para mais centrífugas e máquinas de qualidade de controle. Esse é o tipo de material de que o Irã precisa para ir adiante no enriquecimento do urânio. Schulte foi evasivo ao responder se uma intervenção militar está totalmente descartada, mas procurou ressaltar que a discussão do assunto no CS não esgota os esforços para alcançar um acordo diplomático com o Irã. Para ele, há três razões para levar o caso à ONU. O primeiro motivo é o estatuto da AIEA, que determina o envio de um relatório detalhado sempre que houver descumprimento de obrigações por parte de um país investigado. Em segundo lugar, ele acha que mandar o caso ao CS daria um "claro sinal às lideranças iranianas de que elas não podem seguir esse caminho". Por último, a denúncia levaria as negociações diplomáticas a uma nova fase e mostraria ao Irã seu isolamento. Schulte disse que não se pode comparar o programa nuclear iraniano ao projeto de enriquecimento de urânio feito pelo Brasil. "Sabemos que países com forte expansão no horizonte precisam estar amparados por novas usinas."