Título: Governo recusa oferta de diálogo
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Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2010, Mundo, p. 15

Opositores do premiê continuam desafiando o Exército nas ruas e pedem mediação da ONU

A tensão nas ruas de Bangcoc, capital da Tailândia, aumentou durante o domingo e na madrugada de hoje. O Exército reforçou o isolamento dos manifestantes contrários ao governo do primeiro-ministro Abhisit Vejjajiva, que rechaçou uma proposta dos oposicionistas para negociar uma solução para a crise, com a mediação da Organização das Nações Unidas (ONU). Até o fechamento desta edição, o número de mortos chegava a 33, todos civis. Os conflitos começaram em março e ficaram mais intensos na última quinta-feira, depois da morte de um aliado dos manifestantes. Os chamados camisas vermelhas, que acusam o governo de Vejjajiva de ilegítimo, estão agrupados no centro de Bangcoc e se declaram dispostos a enfrentar um ataque frontal do Exército, se for preciso. O manifestantes ergueram barricadas de arame farpado e pneus incendiados, para intimidar e manter afastados os soldados. O governo, por sua vez, bloqueou o acesso às ruas centrais de Bangcoc e impediu o abastecimento de água e de alimentos. O Exército chegou a anunciar um toque de recolher na capital, na manhã de ontem, mas recurou porque a medida poderia afetar a vida dos civis que moram na região. Apesar de ter recusado a participação da ONU no processo, o governo pediu ajuda de outra organização internacional para lidar com os oposicionistas. A Cruz Vermelha deve auxiliar na retirada dos manifestantes que quiserem abandonar a zona de protestos. Um porta-voz militar disse que podem sair do local ¿crianças, mulheres e idosos¿. Os homens também podem sair, ¿mas têm de mostrar que não estão armados¿, ressaltou o funcionário. Na manhã de domingo, durante um dos momentos mais delicados dos últimos dias, soldados investiram contra cerca de 2 mil manifestantes, lançando bombas de gás lacrimogêneo. Em resposta, os oposicionistas incendiaram um ônibus do exército. À noite, um hotel de luxo próximo ao centro de Bangcoc foi alvo de disparos. Um fotógrafo da agência de notícias France Presse que estava hospedado no hotel contou que a parede externa de seu quarto foi atingida pelas balas. ¿Estava deitado e ouvi uma forte explosão, muito perto de meu quarto¿, relatou Pedro Ugarte. Cerca de 100 pessoas que estavam no edifício tiveram de se refugiar no subsolo. A violência crescente dos últimos dias obrigou as autoridades a cancelar o reinício das aulas na capital tailandesa, previsto para hoje.

Pedido a distância O ex-premiê Thaksin Shinawatra, exilado desde 2008, fez ontem um apelo para que o atual chefe de governo busque uma solução pacífica para o impasse. Thaksin governou a Tailândia durante cinco anos, mas foi deposto em 2006 por um golpe militar. ¿Acredito que uma solução política continua sendo possível na Tailândia. O primeiro-ministro pode evitar que existam mais vítimas e pode salvar o país¿, disse o líder exilado, em documento divulgado por seu conselheiro jurídico em Bangcoc. Os camisas vermelhas são favoráveis a Thaksin porque consideram que o atual governante chegou ao poder de forma ilegítima. Quando o ex-premiê deixou o país, parlamentares aliados do seu governo trocaram de lado e se juntaram ao Partido Democrata, cujo líder, Abhisit Vejjajiva, pôde formar outro governo sem convocar eleições. A Tailândia, que é uma monarquia constitucional(1), já sofreu 18 golpes de Estado desde 1932. O rei Bhumibol Adulyadej, no trono há seis décadas, não tem nenhum poder político efetivo. Mesmo assim, os opositores de Vejjajiva fizeram um apelo para que o monarca, de 82 anos, interfira na crise. Bhumibol Adulyadej está internado desde setembro último e, até agora, não se pronunciou sobre a situação do país.