Título: Câmbio dá competitividade à Argentina
Autor: Paulo Braga
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Agronegócios, p. B10
Comparada à produção brasileira de carne de frango, pode-se dizer que a da Argentina ainda engatinha. Mas o ganho de competitividade que o setor teve na Argentina nos últimos anos permite dizer que as condições para crescimento estão dadas. Além do peso desvalorizado em relação ao dólar, os custos do farelo de soja e do milho no país são inferiores ao do Brasil. "A Argentina tem tudo para crescer em frango", diz Júlio Cardoso, da Assertive Consultoria e Administração e ex-presidente da Seara. Esse quadro reduziu o custo de produção de frango na Argentina, que chegou a ser mais do que o dobro do custo brasileiro em 2002, quando o câmbio era de um para um na Argentina. Conforme dados da Assertive, em 2002, o Brasil tinha um custo de produção de frango estimado (custo de criação e alimentação) de US$ 0,38 por quilo contra US$ 0,85 na Argentina e US$ 0,60 nos Estados Unidos. No ano passado, o custo brasileiro subiu para US$ 0,50 a US$ 0,55 por quilo enquanto na Argentina recuou para US$ 0,40 e caiu para US$ 0,55 nos EUA. Na mesma comparação o custo na Tailândia ficou estável em US$ 0,65. "Em função dos custos do farelo de soja, milho e do câmbio, o Brasil, que tinha uma enorme vantagem, hoje está com custos superiores aos da Argentina e muito próximo ou quase igual aos dos americanos", observa Cardoso. Para o consultor, a perda de competitividade brasileira no setor de frango em comparação com a Argentina está relacionada ainda a problemas de infra-estrutura, que também afetam outros setores, como a soja. Além do real valorizado, agora, o setor exportador de carne de frango tem de se preocupar com outra importante questão: a recente queda na demanda pelo produto - e consequente recuo dos preços - por causa do temor de contaminação pela gripe aviária, principalmente após a chegada da doença à Turquia. Europa e Oriente Médio, por exemplo, já apresentam retração no consumo de aves. Se o custo maior de produção comparativamente a outros países não preocupava tanto num quadro de demanda aquecida - que perdurou durante 2005 -, tudo muda de figura agora. Com custo maior em relação a alguns concorrentes internacionais, o resultado das empresas brasileiras deve ser mais afetado num momento de queda de consumo de frango e de preços do produto, acrescenta Cardoso. Ele lembra ainda que, enquanto o consumo começa a recuar, a produção brasileira de carne de frango vem crescendo de forma expressiva.