Título: Na contramão, usina alagoana enfrenta crise
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2006, Agronegócios, p. B10

Açúcar

Na contramão da expansão em curso do setor sucroalcooleiro no país, a usina João de Deus, instalada em Capela, a quase 70 quilômetros de Maceió (AL), negocia a duras penas sua sobrevivência e a manutenção de quase 300 empregos diretos. "A usina passa por problemas financeiros e pode fechar as portas", afirmou o prefeito do município, João de Paula Gomes Neto. Maior empresa de Capela, cidade de 22 mil habitantes, a usina é alvo de dois grupos grandes do Estado - João Lyra e Toledo -, mas uma eventual aquisição não é dada como certa. A assessoria de comunicação do João Lyra confirmou que o grupo tem interesse na João de Deus, mas informou que as negociações não avançaram. Procurado, o grupo Toledo não quis comentar o assunto. No mercado, contudo, as informações são de que os dois grupos querem apenas adquirir a infra-estrutura agrícola (terras com cana) e industrial (maquinários) da usina, o que implicaria seu fechamento. José Luiz Ramalho, executivo da João de Deus, afirmou que a empresa está em negociações, mas prefere não dar detalhes. Tradicional em Alagoas, a usina João de Deus foi fundada em 1930 pelo avô do atual prefeito da cidade. "Minha família vendeu a usina para o empresário José Pessoa de Queiroz Bisneto [presidente do grupo J. Pessoa] em 1987", disse Gomes Neto. No início da década de 1990, a usina foi novamente vendida, desta vez para o empresário Sebastião Teixeira Nogueira, atual controlador. "A usina tem um peso importante para a cidade. É a maior empresa empregadora de Capela", reiterou o prefeito. Segundo ele, a cidade e os municípios próximos dependem da atividade canavieira. "São em grande parte pequenos agricultores que fornecem cana para a usina", disse. O clima na cidade alagoana é de apreensão. O Valor conversou por telefone com um funcionário da usina, que disse que ninguém da diretoria comentou as possíveis negociações envolvendo a venda da usina e não tem notícias se a empresa deverá manter a moagem na próxima safra. A usina João de Deus deverá moer em torno de 400 mil toneladas nesta safra, a 2005/06, segundo este mesmo funcionário. A usina só produz açúcar. Além da atividade canavieira, Capela também conta com indústrias de cerâmica. "Mas, com a crise na usina, o comércio está praticamente parado", disse o prefeito. A produção sucroalcooleira alagoana - e na região Nordeste em geral - enfrenta uma situação adversa. O clima quente e seco prejudicou o desenvolvimento da cana. O Estado deverá moer 23 milhões de toneladas no ciclo 2005/06, 11,5% a menos que na temporada anterior. A colheita, que tradicionalmente termina entre março e abril, deverá ser concluída no fim do mês de fevereiro. Em Pernambuco, segundo maior produtor de cana do Nordeste, atrás de Alagoas, a safra está projetada em 13,7 milhões de toneladas de cana, 14,3% menos que no ciclo anterior, segundo o Sindicato das Indústrias de Açúcar e Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar/PE).