Título: Carro vai ficar 10% mais caro
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 15/05/2010, Economia, p. 17

Reajuste decorrerá da alta nos preços do minério de ferro e do fim da isenção do IPI

O reajuste (1)de mais de 100% no preço do minério de ferro e o fim da isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) vão aumentar em até 10% o preço do carro zero quilômetro ano e modelo 2011. A estimativa é da consultoria LCA, que projeta alta ainda maior para os veículos usados: de 12,2% para compras feitas a partir do próximo ano. O valor do automóvel já vem subindo fortemente desde abril, e a gente acredita que esse movimento vai ter uma continuidade e até uma intensificação nos próximos meses, disse o economista Fábio Romão, autor das estimativas.

O minério de ferro tem importante papel na cadeia produtiva de bens de consumo duráveis, como automóveis e eletrodomésticos da linha branca (geladeiras, máquinas de lavar e tanquinhos). É dele que se origina o aço, que também é bastante utilizado na construção civil. Por isso, qualquer remarcação no valor de venda do insumo tem efeito devastador em praticamente toda a indústria de transformação.

Nas contas de Romão, em 2010, o minério vai responder, sozinho, por 0,13 ponto percentual do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial. Hoje, a nossa projeção para o comportamento dos preços é de 5,10%. Não fosse esse item, esse número seria de 4,97% no ano, disse. Todos os produtos que tiveram redução de IPI entre 2009 e 2010 e que têm em sua base de produção o aço devem ter um impacto forte nos preços em 2011.

1 - Novas regras Em março, a Vale, maior mineradora do país, negociou com os seus clientes um reajuste superior a 100% para o minério de ferro. Houve também uma mudança nos contratos, que passarão a ser negociados a cada três meses, e não mais de ano em ano. Antes da renegociação, a tonelada do minério era cotada a R$ 55. O reajuste gerou fortes reclamações das siderúrgicas europeias e chinesas, compradoras da matéria-prima. Mas essas companhias acabaram aceitando as novas regras. (DB)

Só aperto não resolve

Vânia Cristino

A decisão da equipe econômica de promover um arrocho de R$ 31,8 bilhões no Orçamento da União não deve ser a única iniciativa a ser adotada no sentido de reduzir o forte crescimento econômico e a alta da inflação, acreditam economistas ouvidos pelo Correio. O governo está fazendo um ajuste de quase 0,9% do PIB (Produto Interno Bruto) contando os dois contigenciamentos. É um esforço fiscal não desprezível, mas não deve ser a única ação coordenada nesse sentido, disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

Segundo ele, medidas como a taxação do crédito e a criação do Imposto sobre Operações Financeiras para o capital estrangeiro que aportar no Brasil podem reduzir o ritmo do consumo, sobretudo para itens de maior valor, como automóveis, geladeiras e televisores. Outra possibilidade, lembrou o economista Leonardo Miceli, da SLW Asset Management, é a liberação dos compulsórios depósitos financeiros obrigatórios para instituições financeiras no Banco Central (BC). Os compulsórios são muito eficientes para conter a inflação. E há quase R$ 30 bilhões circulando no mercado que podem ser resgatados, diminuindo a liquidez (excesso de dinheiro) no mercado, assinalou. Para Jankiel Santos, do BES Investimento, o esforço do governo em conter os gastos é louvável, mas veio tarde. O ritmo de crescimento está muito acelerado. E não há nada que vá mudar esse quadro.