Título: CPI dos Correios vai denunciar Gushiken e Dirceu
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 28/12/2005, Política, p. A4

O relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), confirmou na tarde de ontem os primeiros dois nomes de ex-ocupantes do primeiro escalão do governo Lula a terem seus indiciamentos pedidos pelo relatório final da comissão. O ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu e o secretário de Comunicação Institucional da Presidência da República, Luiz Gushiken, serão denunciados no relatório final do deputado por suposta participação no esquema do valerioduto. "Os casos de Dirceu e de Gushiken não têm como ficar de fora. Com relação ao ministro Gushiken, a própria Controladoria-Geral da União já detectou a modificação de requisitos das licitações de publicidade dos Correios. Com relação ao ex-ministro Dirceu, a palavra de Roberto Jefferson terá de ser avaliada pelo Ministério Público", disse Serraglio, ao citar o deputado cassado do PTB do Rio de Janeiro, autor das denúncias sobre o pagamento de mensalão a parlamentares. O relator da CPI explicou como têm sido feitos os novos cruzamentos em análise pelos integrantes da comissão. Serraglio negou informação veiculada ontem de que 400 assessores de deputados seriam investigados por depositar dinheiro nas contas de Marcos Valério de Souza ou fazer ligações para as empresas dele. "Ninguém vai quebrar o sigilo de 400 pessoas", disse Serraglio. "Nós temos uma relação de 700 assessores que fizeram movimentações financeiras ou ligações não só para o Marcos Valério como a todas as demais pessoas investigadas pela CPI. Mas isso não quer dizer nada ainda. Não podemos nos precipitar. Se um assessor meu ligou para o Delúbio Soares, meu nome estará na lista e isso não quer dizer nada", afirmou, ao citar o ex-tesoureiro do PT, um dos investigados. O sub-relator Gustavo Fruet (PSDB-PR) também pediu cautela. Ele revelou que o número de 700 pessoas surgiu depois da análise das 400 quebras de sigilo fiscal e telefônico de pessoas físicas e jurídicas requeridas pela CPI até agora. Dessas 700 pessoas, apenas 47 fizeram ligações e depositaram dinheiro nas contas de Valério e dos demais envolvidos no esquema. Os nomes de Anita Leocádia, assessora do ex-deputado Paulo Rocha (PT-PA), de Stael Fernanda Rodrigues Lima, mulher do deputado José Janene (PP-PR), funcionária da Câmara entre 2001 e 2004, e Rosângela Fortes de Carvalho, assessora de Janene estão nesse contingente de pessoas que depositaram e fizeram ligações. A base para a investigação é resultado do cruzamento de dados feito pelo programa de computador I2. O software analisou informações da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) do Ministério do Trabalho. Essa lista contém os dados de 30 mil funcionários públicos da União. Fruet prevê o final desses cruzamentos até a primeira quinzena de janeiro. Serraglio não é tão otimista. "Deve demorar um pouco mais. É um trabalho muito demorado", afirmou. O relator disse que o cruzamento foi interrompido para a realização da força-tarefa que o ajudou a redigir o relatório parcial da CPI. Para Serraglio, há a possibilidade de aparecerem novos deputados na lista de beneficiários do esquema montado por Marcos Valério. "As movimentações das contas usadas pelo esquema superam e muito os R$ 55 milhões dos empréstimos declarados por Delúbio e Valério. Há um montante de R$ 20 milhões, por exemplo, dos quais não temos notícias da origem nem do destino. Com esse cruzamento, poderemos ter mais esclarecimentos e há a probabilidade de apareceram novos nomes de parlamentares", disse. Com relação aos recentes ataques sofridos pela CPI de integrantes do governo, Serraglio prevê um esfriamento das críticas, pelo menos até o acirramento do clima eleitoral no próximo ano. "Eles (o governo) vieram forte na semana passada, mas nós respondemos à altura e mostramos que temos força. Agora, haverá um esfriamento por um tempo. Mas se voltarem a nos criticar dessa forma, voltaremos a reagir", ponderou. Há uma determinação do Palácio do Planalto para os ministros e líderes da base aliada assumirem a defesa do governo e desqualificarem o relatório preliminar da CPI. Para o relator, é fundamental "impedir a politização" da CPI. "É a última coisa que queremos", completou.