Título: Eurides aparece, e se defende atirando
Autor: Tahan, Lilian
Fonte: Correio Braziliense, 17/05/2010, Cidades, p. 26

Afastada do mandato de distrital por determinação da Justiça, a deputada diz que vai recorrer da decisão e acusa a petista Érika Kokay de querer fazer um julgamento político

Afastada do cargo de distrital por força de uma liminar desde a última sexta-feira, Eurides Brito (PMDB) partiu para o ataque como uma estratégia de defesa. A deputada questionou a estatura moral de Érika Kokay (PT), relatora do processo a que responde por quebra de decoro, desqualificou as acusações de Durval Barbosa e apontou a artilharia para os petistas. Não entendo por que ninguém vai atrás de saber quem são esses pecadores do PT citados por Durval, provocou ontem pela manhã, durante entrevista coletiva. Na tarde de hoje, os advogados de Eurides vão tentar reaver o posto da política na Câmara Legislativa. Ela foi impedida de atuar como parlamentar enquanto durarem as investigações em curso na Comissão de Ética da Casa. Durante a entrevista, a distrital afastada se disse vítima de um julgamento político dirigido pelas mãos de oponentes. A deputada afirmou que, no lugar de Érika, teria se declarado impedida de participar da Comissão de Ética. Ela foi alvo de terríveis acusações, como manter uma conta fantasma com a ajuda de um servidor. A denúncia, no entanto, morreu na Corregedoria, porque houve a intervenção do então governador José Roberto Arruda e até do Palácio do Planalto. Eu não tenho coragem de fazer o que ela fez, afirmou Eurides, que avisou: Não vou propor o afastamento dela porque, se fizesse isso, sairia na imprensa de Brasília, do Brasil, do mundo e da interplanetária que eu estaria tentando interromper as investigações. Eurides foi afastada do cargo por uma liminar proferida pelo juiz Álvaro Ciarlini, da 2ª Vara de Fazenda Pública do DF. A decisão em caráter cautelar aceita os argumentos do Ministério Público (MP), que considerou a permanência da deputada na Câmara Legislativa um risco para o correto andamento do processo por quebra de decoro a que Eurides responde. Para promotores de Justiça do MP, a distrital estava usando de influência política na tentativa de interferir no processo conduzido pela Comissão de Ética. A entrevista foi concedida no escritório de seus advogados. Eurides disse considerar que tem chances de provar sua inocência na Justiça, mas acha improvável se livrar da cassação no plenário da Câmara. A Justiça não trabalha com fofoca, nem com o ouvi dizer, vai em cima dos fatos. Mas, entre os deputados, o julgamento é político. Se precisar, cairei firme, de pé, sem pedir nada a ninguém, avisou a distrital afastada. Eurides comentou que já havia sido pressionada pelos colegas a deixar o posto. Um dia, o Paulo Tadeu (distrital pelo PT) me disse que a Câmara continuaria a sofrer com uma imagem desgastada se eu não saísse do cargo. Eu disse que, se dependesse de mim, a Câmara ia seguir com a imagem desgastada, afirmou.

Vídeo A distrital, flagrada em vídeo embolsando R$ 30 mil em espécie, dinheiro organizado em maços e entregue pelas mãos do ex-secretário de Relações Institucionais, diz que o depoimento de Durval Barbosa é incoerente e inconsistente. Para Eurides, não faz sentido ter recebido dinheiro enviado a mando de Arruda durante o governo Roriz. Além disso, Eurides ironiza o fato de Durval ter apresentado apenas uma fita e não ter mais nenhuma prova comprometedora contra ela, nem posterior, nem anterior à data da gravação. Em depoimento à Comissão de Ética, Durval acrescentou que Eurides recebeu mesada de R$ 30 mil com dinheiro de propina entre os anos de 2003 e 2006. Os pagamentos, segundo ele, teriam continuado no governo Arruda, por intermédio do ex-chefe da Casa Civil José Geraldo Maciel.

Depoimento Em reação às declarações de Eurides Brito, a relatora do processo por quebra de decoro, Érika Kokay, considerou que a parlamentar sob investigação está repetindo o erro que culminou com o afastamento dela do mandato. Eurides está confundindo os papéis, ela não é investigadora. É investigada. Ao me atacar, ela busca desviar o foco, me intimidar e me constranger. Justamente por esse tipo de comportamento, foi retirada do cargo, rebateu Érika. Para a relatora, Eurides se apropria de uma técnica própria da ditadura de desqualificar quem busca a verdade. Está marcado para hoje o depoimento de Eurides à Comissão de Ética da Câmara. A deputada será a última de uma série de oito testemunhas ouvidas. O prazo para a conclusão do relatório vai até 27 de maio, quando poderá ser estendido por mais 30 dias. O mais provável, no entanto, é que o documento fique pronto nos próximos dias.