Título: Câmbio afasta 5% das empresas do mercado externo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2006, Brasil, p. A4

Entre dezembro de 2004 e dezembro de 2005, 895 empresas brasileiras deixaram de exportar seus produtos, de acordo com o boletim "Comércio Exterior em Perspectiva", divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). O número corresponde a cerca de 5% do total das empresas exportadoras. A retração dessas empresas no mercado externo pode ser resultado da perda da rentabilidade das exportações provocadas pela desvalorização do dólar frente ao real, avalia o economista da entidade, Marcelo Azevedo. Apesar dos bons resultados da balança comercial no ano passado, os prejuízos dos exportadores com a contínua desvalorização do dólar podem ter impacto no comércio exterior do Brasil em um futuro próximo, diz o boletim. Isso porque a perda da rentabilidade das exportações desestimula muitas empresas, sobretudo as de menor porte, a investir no mercado externo. Ao perder o investimento feito em divulgação e os canais de distribuição dos produtos, as empresas não retornam facilmente ao mercado externo, mesmo que o dólar volte a se valorizar. Segundo levantamento feito pela CNI, as perspectivas de investimento em exportação para este ano não são boas. Os efeitos da falta de investimentos no comércio exterior podem não ser sentidos agora, mas devem ser percebidos no longo prazo. Os técnicos da CNI lembram que a manutenção do ritmo de crescimento das exportações em 2005 é resultado do aumento dos preços internacionais, e não do aumento da quantidade embarcada. Com isso, o Brasil fica mais vulnerável no caso de uma eventual queda da demanda externa, que derrubaria rapidamente os preços, principalmente dos produtos industrializados. Azevedo afirma que não há sinais de que haja uma reversão nos preços internacionais ainda neste ano, mas destaca que esse é um fator que escapa do controle de políticas macroeconômicas brasileiras A previsão é que a China e os Estados Unidos deverão manter a demanda aquecida em 2006. "Não se pode prever por quanto tempo esse movimento irá durar, mas não há sinais de reversão para este ano", diz o economista. O economista da CNI lembra que o Fundo Monetário Internacional (FMI) não prevê alteração no ritmo de crescimento mundial em relação a 2005, mas destaca fatores de riscos de menor expansão para este ano, como aumento de juros nos Estados Unidos e pressões sobre os preços do petróleo. Para o Fundo, a economia mundial deverá crescer 4,3% em 2006. A CNI estima que as vendas externas brasileiras deverão crescer 10% neste ano na comparação com 2005 e atingir US$ 130 bilhões. Mesmo que não haja recuperação expressiva da demanda interna, por causa da postura cautelosa do Banco Central no corte de juros, as importações também continuarão crescendo e deverão atingir US$ 86,5 bilhões. Com isso, o superávit comercial estimado pela CNI para 2006 será de US$ 43,5 bilhões.