Título: Eles negam, mas a Copa está garantida
Autor: Jeronimo, Josie; Bonfim, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 12/05/2010, Política, p. 2

Proposta do líder do governo para antecipar o recesso de julho e ver os jogos em casa é rechaçada. No entanto, deputados reconhecem que o Congresso deve ficar deserto durante a disputa do mundial

Temer: ¿Nós vamos trabalhar regularmente, até o recesso normal, que é na metade de julho¿ Alves garante que já cansou de ver os jogos no cafezinho A franqueza do líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), ao pregar a antecipação do recesso para liberar os deputados durante a Copa do Mundo gerou um grande mal-estar entre os colegas. Apesar de os parlamentares confessarem que o Congresso fica deserto durante a maior competição do futebol mundial, os deputados rejeitaram a gazeta oficial proposta por Vaccarezza. Apenas o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), fez coro com o argumento do líder sobre a natureza itinerante do trabalho parlamentar. De acordo com Sarney, o parlamento chinês se reúne cinco dias de quatro em quatro anos e ¿trabalha¿. ¿É um conceito diferente que se cria sobre o que são férias. O político vive permanentemente trabalhando. O problema não é a Copa; o problema é a matéria que temos que votar. Se quisermos ter recesso na Copa, temos que votar as matérias que estão aí. Isso vai depender dos líderes. Faço um apelo para encontrarmos uma solução¿. Com um convite em mãos para ser o vice da petista Dilma Rousseff na corrida ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), fecha as portas para a oficialização das folgas durante a Copa do Mundo. ¿Não é possível, compreendo as razões do líder Vaccarezza, acho que ele atentou para uma razão muito patriótica que é a Copa do Mundo. Nós vamos trabalhar regularmente, até o recesso normal, que é na metade de julho, acho que não há condições de discutir esse assunto¿. Entusiasta do recesso branco na segunda-feira, ontem, o líder do PSDB na Câmara, João Almeida (BA), já dava a proposta como encerrada depois da manifestação de Temer. ¿Nós vamos trabalhar até o recesso¿. Pela Constituição, o prazo fixado para o recesso é de 18 a 31 de julho. Mas em anos eleitorais, os parlamentares adotam o costume de combinar a pauta de votação para votar matérias de grande interesse público ou com prazo para perder a eficácia para manter uma espécie de ¿operação padrão¿ até outubro. Apesar de esvaziado, a manutenção do gabinete dos deputados e senadores custará cerca de R$ 252 milhões nos quatro meses de recesso branco, considerando o ¿esforço concentrado¿ do início de junho até o primeiro turno das eleições.

Pauta de votações Quando a disputa eleitoral coincide com uma Copa do Mundo, o Congresso fica esvaziado, mas os deputados não dão o braço a torcer e afirmam que a sugestão de Vaccarezza é um artifício do governo para evitar outras surpresas desagradáveis, como a que ocorreu com a aprovação do índice de 7,7% para os aposentados e o fim do fator previdenciário. ¿De quatro em quatro anos tem isso. A atribuição (de decidir sobre o recesso branco) não é do líder, é do presidente da Casa. Talvez ele tenha encontrado esse caminho para não votar, e não com intuito de não trabalhar¿, observa o líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). O líder do PMDB afirmou que os jogos do Brasil não prejudicarão o trabalho na Câmara porque estão marcados para as terças-feiras e os domingos, e que ele ¿cansou de assistir¿ jogos no cafezinho do plenário durante as Copas. Apesar de não confessarem adesão à proposta de Vaccarezza, os deputados já começam a desenhar o recesso branco na Câmara. Hoje, reunião de líderes vai apontar pauta de votações para as próximas semanas que antecedem a Copa. Cada líder vai indicar uma Proposta de Emenda Constitucional para votação. Os parlamentares também podem discutir a possibilidade de votar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) até o dia 10, como propõe Vaccarezza.