Título: BC eleva projeção de IPCA para 3,8% em 2006
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2005, Brasil, p. A4

Conjuntura Apesar da revisão, inflação prevista para o próximo ano permanece abaixo da meta, fixada em 4,5%

A inflação medida pelo IPCA projetada para 2006 pelos modelos econométricos do Banco Central subiu de 3,5% para 3,8% entre os relatórios de setembro e dezembro, mas ainda permanece confortavelmente abaixo da meta fixada para o ano, de 4,5%. Essa folga significa que, em tese, há espaço para novos cortes na taxa básica de juros, hoje fixada em 18% ao ano. A projeção faz parte do relatório trimestral de inflação de dezembro, divulgado ontem pelo BC. Seu pressuposto básico é que a taxa Selic permaneça estável em 18% ao ano por tempo indeterminado e a taxa de câmbio imóvel nos R$ 2,26 vigentes às vésperas da mais recente reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, realizada há duas semanas. De lá para cá, o câmbio subiu para R$ 2,35, o que tende a elevar a inflação projetada. Numa segunda projeção da autoridade monetária apresentada no relatório, que toma como base a trajetória de câmbio e juros prevista pelo mercado, a inflação projetada para 2006 é de 4,9%, portanto acima da meta. A conclusão a partir dos dois exercícios é que há espaço para corte nos juros, mas não exatamente nas condições previstas pelo mercado. O cenário traçado pelos analistas de mercado é uma taxa básica média de 17,33% no primeiro trimestre de 2006, que cairia ao longo do ano, até chegar a um percentual médio de 15,46% no último trimestre. A taxa de câmbio média do primeiro trimestre é de R$ 2,26, subindo para R$ 2,41 no último trimestre. O BC também reviu para cima as suas projeções para a inflação em 2005, de 5% para 5,7%. Esse percentual já não tem grande importância para as decisões de política monetária, que normalmente se norteiam pela inflação projetada nos 12 meses seguintes. O IPCA de 5,7% supera tanto a meta original de inflação fixada para o ano (4,5%) quanto a meta ajustada que o BC anunciou que perseguiria no período (5,1%). Mas não deverá haver descumprimento da meta, já que o índice está dentro do intervalo de tolerância, que vai até 7%. "A inflação caiu quase dois pontos percentuais de 2004 para 2005 e cumprimos a meta pelo segundo ano seguido", disse o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua. O BC reviu a inflação projetada para 2005 em virtude da surpresa inflacionária observada nos meses de outubro e novembro. A inflação projetada para 2006 foi revista para cima em virtude da queda dos juros (19,5% para 18% ao ano) do relatório de setembro para cá e da maior inércia inflacionária esperada para o ano que vem, originada da inflação mais elevada que a esperada em meses recentes. Suavizaram esses efeitos negativos o PIB abaixo do esperado no terceiro trimestre de 2005, a redução das projeções de aumento de preços administrados (de 5,3% para 4,6%) para 2006 e o recuo da taxa de câmbio de setembro para dezembro (R$ 2,35 para R$ 2,25). O relatório informa que, desde setembro, houve mudança nos fatores de risco à trajetória de inflação. "Diferentemente do expresso há três meses, os maiores riscos para a trajetória futura de inflação estão associados à evolução do cenário interno", diz o relatório. "Uma fonte de risco nos próximos meses são os possíveis efeitos inerciais do aumento das taxas de inflação no quarto trimestre de 2005 sobre a evolução dos preços em 2006." Atenção especial, diz o Copom, deve ser dispensada aos primeiros meses do ano, quando tradicionalmente há maior concentração de reajustes de preços. De forma geral, o BC vê um cenário de crescimento moderado da economia, sem que eventuais descompassos entre oferta e demanda agregada produzam aceleração da inflação. O BC alerta, porém, sobre os riscos de um crescimento maior do que o previsto - com reflexos negativos sobre a inflação - , dado que os efeitos do relaxamento monetário ocorrem de forma defasada no produto. "Desde a reunião do Copom de setembro, a taxa Selic reduziu-se em 1,75 pp., fazendo com que se tornasse menor a diferença entre a taxa básica de juros corrente e as taxas que deverão vigorar em equilíbrio no médio prazo", diz o relatório. O cenário externo, na avaliação do BC, tornou-se mais favorável. "O Copom permanece atribuindo baixa probabilidade a um cenário de deterioração significativa dos mercados financeiros mundiais", diz a ata.