Título: Previsão do PIB para este ano cai de 3,4% para 2,6%
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2005, Brasil, p. A4

O crescimento da economia projetado pelo Banco Central para 2005 foi reduzido de 3,4% para 2,6% entre setembro e dezembro, em virtude dos números abaixo do esperado divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referentes ao terceiro trimestre. Mas a autoridade monetária espera uma moderada reação da economia em 2006, com crescimento de 4%. O percentual projetado pelo Banco Central para 2006 é inferior à expansão de cerca de 5%, prevista para o período pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci, na semana passada. Quando questionado sobre a divergência de projeções, o diretor de Política Econômica do BC, Afonso Bevilaqua, diz não descartar a possibilidade de a economia crescer mais. Ele lembrou que, às vésperas do início de 2004, o BC projetava expansão de 3,5% para o PIB, mas o crescimento chegou a 4,9%. "É possível que sejamos surpreendidos novamente", disse Bevilaqua. Em 2004, entretanto, quando o crescimento ficou acima do previsto, houve pressões inflacionárias e a autoridade monetária se viu obrigada a elevar os juros. O resultado foi o baixo crescimento de 2005, projetado em 2,6%. O diretor do BC sustentou que o crescimento projetado para 2005 não é tão pequeno, se confrontado com a média de crescimento da economia entre 1995 e 2002, de 2,3%. O Banco Central antevê para o próximo ano uma aceleração do crescimento da agricultura, que passaria de 1,5% para 4,8%, entre 2005 e 2006. Quadro semelhante é projetado para a indústria, com expansão de 3% para 5,3% no período; e para os serviços, passando de 2,1% para 2,9%. Sob o ponto de vista da demanda, o setor externo deixará de ter efeito positivo sobre o crescimento, abrindo mais espaço para a expansão da demanda interna. De um lado, as exportações cresceriam 6,4%, com efeito positivo de 1,2 ponto percentual no PIB; de outro lado, as importações cresceriam 12,1%, com efeito negativo de 1,6 ponto no PIB. Em termos líquidos, a contribuição do setor externo no PIB seria de 0,4 ponto. O BC espera expansão de 6,6% nos investimentos em 2006 (contribuição de 1,3 ponto percentual para o PIB), seguindo-se a um percentual de apenas 1,3% em 2005. Os investimentos serão favoráveis no ano que começa, disse Bevilaqua, graças ao baixo risco-país, à perspectiva de redução dos juros e ao desempenho da construção civil, que será favorecido pelo crédito e obras de infra-estrutura. Bevilaqua reconhece que, por trás do desempenho relativamente fraco dos investimentos em 2005, estão os efeitos da política monetária. "Nada na demanda agregada é imune aos juros", disse. Há também, assinala, sinais de que os empresários se retraíram em virtude da crise política. Ele relativiza o baixo percentual de crescimento dos investimentos, argumentando que ele ocorre sobre uma base elevada, após expansão de 10,9% nas inversões em 2004. O percentual de expansão do investimento previsto para 2006, disse, está na média dos valores registrados nos dois anos anteriores. "Nossa projeção é que os investimentos cresçam mais do que o PIB", disse. Ele admite que o PIB abaixo do esperado no terceiro trimestre de 2004 afeta negativamente as expectativas dos empresários, prejudicando investimentos. Mas argumenta que as expectativas mudam aos primeiros sinais de crescimento consistente da economia, como ocorreu no período de 2003 para 2004. Para ele, incertezas sobre o período eleitoral não devem frustrar investimentos. "As incertezas sobre o novo governo são muito menores do que no passado, e os riscos de mudanças na política econômica foram reduzidos", disse. "Além disso, a economia está hoje mais resistente a choques." O consumo das familias também deverá se expandir a uma taxa superior à do PIB em 2006, em 4,2%, contribuindo em 2,3 ponto percentual para o crescimento da economia como um todo. O consumo do governo cresceria 1,5%, com contribuição de 0,3 ponto. Caso se confirmem as projeções de crescimento feitas pelo BC para 2005 e 2006, o crescimento médio observado no governo Lula será de 3%, após expansões de 0,5, em 2003, e de 4,9%, em 2004.(AR)