Título: Segurança confirma saque da Skymaster
Autor: Thiago Vitale Jayme
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2005, Política, p. A6

O sub-relator de Contratos da CPI dos Correios, José Eduardo Cardoso (PT-SP), começa a montar as peças do quebra-cabeças do esquema do suposto pagamento de propina pela Skymaster a funcionários da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) para obter vantagens em contratos com a estatal. Depoimento importante foi dado na tarde de ontem. O segurança Francisco Marques Carioca confessou à comissão ter participado de um obscuro esquema de saques das contas da Skymaster. "O depoente reconhece que sacou dinheiro da conta da Skymaster e o repassou a um advogado da empresa. Isso reforça nossa convicção de que esse dinheiro foi usado para a corrupção, para o pagamento de propina", afirmou Cardoso, depois do depoimento de Carioca. A Skymaster é acusada de superfaturar os contratos do correio aéreo noturno. Carioca reconheceu na tarde de ontem que foi procurado por Marcos Pinto, advogado da Skymaster, para a realização de serviços de segurança para alguns saques a serem efetuados na agência do Bradesco em Manaus, entre 14 de fevereiro de 2000 e 30 julho de 2001. Carioca ganhou R$ 50 por serviço prestado. O segurança trabalha para a Cortês Câmbio e Turismo, empresa de Carlos Cortês, que já foi detido pela Polícia Federal em investigações de remessa para o exterior. A CPI desconfia que essa empresa enviou o dinheiro sacado por Carioca ao exterior para pagar a propina relativa à renovação de contratos com a ECT. Marcos Pinto, o advogado da Skymaster, acompanhava Carioca até a agência do Bradesco. Aguardava o dinheiro na porta do banco. Depois de feito o saque, o segurança acompanhava o representante da empresa até onde Pinto lhe pedisse para acompanhá-lo. Os 27 saques feitos pelo segurança, somados, chegam a R$ 1,037 milhão. Curiosamente, alguns saques são feitos nas mesmas datas de renovação de contratos entre a Skymaster e os Correios. No dia 26 de junho de 2001, a ECT renovou um contrato com a empresa. Nos dias 27 e 28 do mesmo mês, Carioca foi ao banco fazer dois saques. "A coincidência de datas impressionou", disse Cardoso. O segurança se recusou a informar o destino do dinheiro dizendo não se lembrar nem dos locais para onde acompanhava Marcos Pinto, irritando os parlamentares. "Teremos de trazer o advogado para depor e, quem sabe, realizar uma acareação entre os dois", afirmou Cardoso. O deputado Antonio Carlos Pannunzio (PSDB-SP) era um dos mais irritados. "Ele mente descaradamente. E ainda foi cínico. Ele não se lembrava coisas importantes para a CPI. Mas de outras, ele se lembrava", afirmou. A deputada Denise Frossard (PPS-RJ) atribuiu a hesitação do depoente ao medo. "Ele sabe que no estado dele é fácil contratarem um pistoleiro", disse. Ao final do depoimento, a CPI aprovou a convocação de Marcos Pinto. Depois de Carioca, o chefe do Departamento de Negócios e Operações na Internet da ECT, Antônio de Paula Braquehais, negou à CPI qualquer cobrança de propina em seu departamento.