Título: Lula pede prioridade ao Fundeb
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2005, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem, durante assinatura de convênios no valor de R$ 266,5 milhões para extensão de universidades federais em 14 estados, que o Congresso aprove o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Básico (Fundeb) em janeiro, antes da aprovação do orçamento de 2006, para que ele possa entrar em vigor ainda no ano que vem. E afirmou que o crescimento da economia precisa acontecer de forma concomitante com o crescimento do conhecimento. "Para que o Brasil, definitivamente, se transforme num país de economia sólida, num país desenvolvido", declarou o presidente. Lula proibiu que seu governo fale em gasto quando se trata de colocar dinheiro na educação brasileira. "Se não, toda vez que você for discutir o orçamento de um município, de um estado ou da União, você estará comparando a formação de um ser humano, na sua plenitude profissional e intelectual, a uma obra qualquer que, por mais importância que tenha, não terá o resultado de futuro para a Nação", justificou o presidente. No início do ano, 8,8% (R$ 802 milhões) dos recursos destinados à educação foram contingenciados pelo governo federal, de acordo com o ministério da Educação. Permanecem retidos R$ 439 milhões. Lula ressaltou que o país passou a disputar espaço com os Estados Unidos, União Européia e Japão. "O Brasil, hoje, não é apenas um exportador de matérias-prima, de produtos in natura. É um exportador de produtos manufaturados e só terá a dimensão que queremos que tenha na medida em que se transforme num exportador de conhecimento, de inteligência", acrescentou. Lula garantiu que a quitação dos US$ 15,5 bilhões com o FMI e dos US$ 2,6 bilhões com o Clube de Paris, consolida a rota de crescimento econômico. "Não é um crescimento de vôo de galinha, que cresce um ano e cai no outro. O país está preparado, com estabilidade, para crescer durante 10, 15 anos, de forma sucessiva". E concluiu: "investir em educação tem que ser uma decisão de Estado. Ou nós investimos agora ou daqui a dez anos teremos gastado, em cadeia, o dinheiro que não gastamos em educação neste ano". A presidente da Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior (Andes), Marina Barbosa, discorda do presidente. Para ela, o que falta ao governo, justamente, é encarar a educação como política de Estado. "O governo teve oportunidade de fazer muita coisa nesses quatro anos e não fez", protestou. Neste ano, o país sofreu com a maior greve de professores de universidades federais - 112 dias. "Eles poderiam ter aprovado a equiparação entre servidores e inativos, além de implementar a isonomia entre os professores de 1º e 2º grau. Não fez nada disso". Marina também lembra que tramita no Congresso Nacional uma PEC pedindo que os repasses de verbas para educação - 18% da arrecadação total do governo - sejam repassados integralmente, ficando livres dos contingenciamentos impostos pela área econômica. "Com a criação das contribuições, nossas verbas caíram ainda mais", reclamou.